Chamem Eliot Ness!

Espírito Santo, Rio, São Paulo, Minas Gerais, Acre… O crime organizado dá as cartas e joga de mão. De dentro do xilindró, prisão de segurança máxima, os criminosos assumem o comando e dão espetáculo, ordenam execuções sumárias e debocham das autoridades constituídas. Agem como refinados executivos e estão equipados com celulares, laptops, pistolas, granadas, escopetas e muito dinheiro. E têm a proteção do Poder Público, que lhes dá segurança, casa, comida e roupa lavada. É o Brasil de FHC, que ainda há pouco comemorou o 2.º aniversário do seu (dele) Plano Nacional contra a Violência e o sétimo do Plano Nacional de Segurança.

Dias atrás, incomodado com alguns desafetos, o sr. Luiz Fernando da Costa, mais conhecido pelo vulgo de Fernandinho Beira-Mar, não obstante estivesse sob a custódia da polícia e domiciliado nas aprazíveis dependências do inexpugnável Bangu 1, pintou e bordou. Tomou de assalto o presídio carioca, transitou sem cerimônia pelos vários pavilhões, determinou o assassinato de pelo menos cinco membros de facções rivais do tráfico, fez oito reféns e proclamou instalada ali a República Independente do Comando Vermelho. Ele solto lá dentro; nós presos aqui fora. Não é uma graça? Graça, não; é patético!

Segundo os jornais, a rebelião começou quando alguns detentos do pavilhão do CV renderam alguns agentes penitenciários, tomaram-lhe as armas e invadiram a ala rival para um ajuste de contas. E como teria acontecido essa rendição? Talvez da forma como fazíamos nós, nos tempos de criança, quando brincávamos de mocinho e bandido: apontando o dedo para o inimigo e dizendo “teje preso!”.

Nem mais é o Estado-paralelo em ação. É o pleno governo da marginalidade. As autoridades oficiais em estado de perplexidade e nós bestificados, implorando por uma solução divina.

Suponho que nem na Chicago de Capone & Cia. a coisa era tão fácil assim. Talvez a Máfia dos anos 30 tivesse um pouco mais de compostura. Ou a corrupção não chegasse aos índices de hoje em dia.

Estamos praticamente no meio de uma guerra civil, sem regras nem limites. E ninguém toma uma providência eficaz. Todo mundo continua fazendo de conta que não tem nada com isso. De repente, será tarde demais. E isso não é nada engraçado. Engraçado é FHC, que durante oito anos manteve entre as suas (dele) metas principais atacar a criminalidade e combater a violência no Brasil; engraçado é o candidato Garotinho, que vive jactando-se de haver reduzido o banditismo na outrora Cidade Maravilhosa; engraçados são os demais candidatos federais e estaduais, que também têm como mote de campanha a luta contra a violência.

Beira-Mar, 35 anos, baixinho e já meio barrigudinho, é um meliante comum, sem superpoderes. Está preso, sob severa vigilância. Mesmo assim, comanda o tráfico, dá ordens para torturar e assassinar, encomenda mísseis pelo telefone, suborna policiais, ameaça autoridades públicas e qualquer dia desses ainda vai escapar da cadeia pela porta da frente, como já fez, há pouco tempo, na carceragem do Departamento Estadual de Operações Especiais da Polícia Civil de Minas, em Belo Horizonte, mediante o pagamento de míseros R$ 500 mil.

Será que não está na hora de evocar o espírito de Eliot Ness, aquele agente incorruptível que chefiava “Os Intocáveis”? Se quiserem, também posso enviar um pedido de socorro ao Batman, lá em Gotham City, ou ao Super-Homem, em Metrópolis, com os quais tenho alguma intimidade, como se sabe.

Célio Heitor Guimarães

é um cidadão pasmo diante de certas obviedades.

Voltar ao topo