Cesta barata?

A cesta básica ficou mais barata em treze de dezesseis capitais brasileiras pesquisadas pelo Dieese. Quando os meios de comunicação foram aos supermercados ouvir os consumidores, viram-se caras de incredulidade, espanto e tímidos aplausos, pois a população brasileira, de tanto sofrer aumentos, nem acredita que algum preço possa baixar. Mas o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos) é um organismo técnico ligado aos sindicatos, portanto digno de confiança. Não lhe cabe agradar a este ou a qualquer governo, mas oferecer aos trabalhadores a expressão da verdade. A inusitada notícia positiva merece credibilidade. E análise.

No ano passado, em relação a 2005, as maiores quedas nos preços da cesta básica ocorreram em João Pessoa (-7,41%), Recife (-5,82%), Aracaju (-5,29,%) e Curitiba (-5,05%). Três capitais do Nordeste e uma do Sul do País. Em São Paulo e Rio a cesta básica subiu. Em São Paulo, mais 0,75%; no Rio, mais 3,76%. Há que se entender que essas variações devem-se a vários fatores. Em primeiro lugar, os preços são livres, embora alguns sofram algum monitoramento do governo. Não há tabelamento nem congelamento. O Brasil é um país continental e, portanto, condições climáticas, facilidades ou dificuldades de transporte, impostos díspares, maior ou menor uso de tecnologia e outros fatores influem na formação de preços. Há ainda a especulação, o mau uso ou abuso da lei da oferta e da procura, do que muitas vezes não escapamos.

Os dados coletados pelo Dieese revelam onde os preços mais baixaram e não onde a cesta básica é mais barata. É um cotejo entre os preços, podendo haver um estado onde a cesta básica caiu muito, mas ainda ficou mais cara do que em outro onde até subiu ou caiu em níveis irrelevantes. Porto Alegre surge, pelo segundo ano consecutivo, como a capital de cesta básica mais cara.

As carências do trabalhador brasileiro são tantas que ele acabou por imaginar que salário mínimo é um ganho básico para pagar a cesta de comida, esquecendo-se que em sua definição ele deve cobrir a alimentação da família e mais outras necessidades essenciais. Dentre estas estão moradia, vestuário, saúde, educação, transporte, previdência, enfim, sobrevivência condigna. Assim foi definido o salário mínimo, quando criado pela lei maior. Mas sucessivos governos foram achatando o seu valor e, a bem da verdade, o governo Lula tem sido um dos que mais tem caminhado para a recuperação.

Lula acaba de concordar com um salário mínimo de R$ 380,00. O atual é de R$ 350,00. Isso significa que a cesta básica consome quase a metade do mínimo, pouco sobrando para as demais despesas. Ou melhor, sobrando quantia insuficiente para as demais necessidades básicas do trabalhador. O Dieese calcula que o mínimo deveria ser, em dezembro último, de R$ 1.564,52, ou seja, 4,47 vezes o mínimo vigente de R$ 350,00. E o novo mínimo de R$ 380,00, embora signifique um avanço, ainda estará a quilômetros de distância do que a lei manda pagar aos trabalhadores.

A queda dos preços da cesta básica é uma boa notícia, mas está longe de ser uma solução quando verificamos que ela consome quase a metade de um salário mínimo ridiculamente baixo, ilegal e apenas capaz de manter uma parcela imensa de trabalhadores brasileiros da ativa, aposentados e pensionistas em situação muito próxima da miséria.

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