Caudilho canhoto

A terceira posse consecutiva do militar reformado Hugo Chávez na presidência da Venezuela é um fato preocupante. Não é preciso ser contra o governo de ?socialismo bolivariano? que ele anuncia, embora não se saiba bem do que se trata, para temer o processo político da Venezuela e suas influências possíveis nos demais países da América Latina. Dos países do continente sob influência da nova linguagem política de Chávez, o Brasil ainda é o que se encontra mais afastado. Mas a persistência de nossos problemas de desenvolvimento e diferenças sociais pode, através de discursos populistas, nos levar ao mesmo rumo. E o rumo que se teme não é o ?socialismo ou morte?, como ele anuncia, mas os passos largos que dá contra a democracia e em favor de uma ditadura e de um governo que se eternizará nas mãos de um político cuja história oferece sobejas provas de autoritarismo.

Chávez, antes de ser eleito na primeira vez, tentou um golpe militar frustrado. Também frustrado foi o golpe que a oposição tentou aplicar em seu governo eleito, pois o importante é que nos fixemos na necessidade de seguir o caminho democrático, imperfeito, mas ainda o melhor regime que o homem conseguiu criar.

Numa linguagem populista, sem dúvida grosseira e arrogante, o presidente da Venezuela decidiu e impôs a sua reeleição por quanto tempo desejar. O Congresso Nacional, cuja ação é indispensável no regime democrático, porque, bem ou mal, representa a voz do povo, foi curvado de joelhos sob sua vontade e aceitou a imposição de que o presidente legisle por conta própria. Cordeiros destinados ao sacrifício, levando com eles as esperanças de desenvolvimento econômico, político e social do povo venezuelano.

O ?socialismo bolivariano? que Chávez proclama, sem explicar do que se trata, além de presumir a eternização do presidente em seu cargo e anular as atividades do Congresso, não garante desenvolvimento econômico, apesar de a Venezuela ser um dos maiores produtores mundiais de petróleo. Os fatos o provam, pois, dos donos das maiores reservas do chamado ouro negro, o nosso país vizinho foi um dos poucos que nenhum proveito colheu para o bem-estar de seu povo. A Venezuela era e continua sendo um país pobre, a maioria da população na faixa da baixa renda ou na miserabilidade.

O apelo xenófobo anuncia nacionalização e reestatização. Isso é um retrocesso e, para os que acreditam que não, como muitos brasileiros que hoje pregam o mesmo caminho, basta mostrar a retração imediata do ingresso de capitais no país vizinho e a queda nas cotações da Bolsa de Valores de Caracas. Pode-se discutir a globalização porque ela traz males para os países menos ricos e também significa interferência externa em economias mais frágeis. Mas é insensatez imaginar que, num mundo que já é uma aldeia global, países possam viver no isolamento em nome de um patriotismo inconseqüente e de um nacionalismo cego. Hoje, nenhum país do mundo vive sem intensas relações, inclusive e principalmente econômicas, com a comunidade das nações ou pelo menos com algum bloco dela.

O que está acontecendo nesta nossa sofrida América Latina é que, enquanto no Caribe Fidel Castro aproxima-se do fim, Hugo Chávez, um político sem brilho, mas oportunista, busca ocupar sua posição. E o que a história conta é que nenhuma ditadura, de esquerda ou de direita, conseguiu até hoje o desenvolvimento pleno, político, econômico e social. Não é um exemplo a ser imitado.

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