Carro blindado

Embora existam dúvidas de que a questão política tenha a ver com os dois crimes, Lula da Silva aproveita para tirar vantagem dessa condição de emparedado consciente e critica a política econômica do governo: “Ou geramos emprego ou o crime organizado e o narcotráfico oferecerão o que o Estado não tem para oferecer”. Se também usa colete à prova de bala por debaixo do paletó bem cortado, não se sabe, mas o exemplo do candidato não é dos melhores. Melhor que andar em carro blindado, convenhamos, seria Lula entrar no debate para valer com propostas factíveis e práticas para acabar com esse clima de insegurança em que vivemos.

Não que queiramos que Lula se exponha além do razoável. Mas ele é – ou devia continuar sendo – um do povo e o povo não se pode dar ao luxo de tamanho privilégio. O mesmo haveríamos de dizer dos outros candidatos, que – até aqui não se sabe – talvez façam o mesmo ou pior. Elevar muros, como se fazia na Idade Média, para proteger cidades e pessoas contra invasores estranhos, representa o encolhimento da cidadania, o encurralamento do contribuinte, a capitulação dos homens de bem perante o mundo do crime. A negação de nossa vida em sociedade.

O papel de um candidato, seja ele de qualquer corrente ideológica ou partido, deveria ser exemplar. É com base em seu comportamento – o conjunto do que foi, do que pensa, faz, diz, promete e realiza – que o eleitor tira conclusões e toma decisões. Se hoje Lula anda em carro blindado, amanhã, no poder, contratará couraçados, tanques e viverá em bunkers. E convém que, mesmo sendo prudentes, nossos governantes fiquem o mais próximo possível do povo. Sem construir muros, como ocorre já no Oriente Médio, repetição do desmantelado e russo muro da vergonha.

O tema da segurança pública e da insegurança dos cidadãos nos remete ao falso debate em que se embrenharam governantes do Rio de Janeiro e de Brasília, depois das últimas execuções do governo paralelo ali estabelecido pelos que comandam o tráfico de drogas nas favelas. A governadora Benedita da Silva fez como avestruz para dizer que isso é bobagem, que não há perda de controle por parte do poder constituído. Enquanto isso, nos morros, a polícia descobre verdadeiros cemitérios onde as vítimas, mutiladas e esquartejadas, eram ali depositadas sabe-se lá desde quando. Como o repórter Tim Lopes, não tiveram a proteção do Estado e certamente não andavam em carros blindados.

Os números dessa guerra entre cidadania encurralada pela criminalidade impune são superlativos. Segundo estima a Ordem dos Advogados do Brasil, o País gastou, por alto, ano passado, mais de cem bilhões de reais com segurança privada. Tanto dinheiro para a proteção de alguns em nada contribuiu para diminuir o medo ou aumentar a segurança de todos. E isso é suficiente para sugerir outro caminho aos que se propõem governar o País.

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