Capivari pode auxiliar a melhorar água do Iraí

A água da represa do Capivari, atualmente utilizada pela Copel para a geração de energia elétrica, poderá contribuir para amenizar os problemas registrados na barragem do Iraí. A conclusão é de um dos estudos de simulação realizados por mais de 60 pesquisadores, que há dois anos buscam soluções para amenizar os problemas de eutrofização na área alagada do Iraí. Eutrofização é o processo de degradação que ocorre na água de lagos e barragens, sendo que uma de suas conseqüências é o surgimento de algas.

Foram feitas duas simulações para retirar 1 e 2 metros cúbicos de água por segundo do Capivari e lançar os volumes na cabeceira do Rio Timbu, um dos principais rios que deságuam no Iraí. Essa transposição oferece vantagens, como o aumento do volume de água no Timbu. Outros benefícios são a redução do tempo da água na barragem do Iraí, pelo aumento da vazão, e a diminuição da eutrofização no lago. A etapa seguinte será avaliar o projeto de engenharia e negociar com a Copel e órgãos ambientais a liberação da água do Capivari para o Timbu.

Este e outros 26 resultados estão sendo apresentados ontem e hoje no IV Seminário do Projeto Interdisciplinar de Pesquisa em Eutrofização de Águas de Abastecimento Público, promovido pela Sanepar. Participam do seminário a UFPR, Suderhsa, PUCPR, Funpar, Instituto Ambiental do Paraná, Prefeitura de Curitiba, Ministério de Ciência e Tecnologia, Finep (Financiadora Nacional de Ensino e Pesquisa), CNPq, Agência Nacional de Águas.

As pesquisas foram iniciadas com o objetivo de se conhecer os diversos sistemas que interagem no lago e no seu entorno. A definição das linhas de pesquisa ocorreu a partir da grande floração de uma espécie de algas (microcystis) em 2001, que provocou alterações na qualidade de água destinada ao abastecimento público. Segundo o coordenador do seminário, Cleverson Vitorio Andreoli, é imprescindível continuar a aprofundar as pesquisas na região do Iraí. “Isso para que se possa antecipar os problemas e buscar soluções adaptadas às condições socioambientais desse manancial”, avalia.

Outros resultados

Todos os estudos estão correlacionados. Os resultados obtidos em determinada pesquisa contribuem para consolidar outras e indicar soluções para os problemas. Um exemplo da interdisciplinaridade das pesquisas é o trabalho de medição de vazão de cada um dos rios contribuintes do lago. Identificou-se que o Rio Curralinho é o que tem maior vazão (0,5 metro cúbicos por segundo), seguido dos rios Timbu (0,44), Canguiri (0,15) e Cerrado (0,14). Conhecida a vazão, foi possível fazer a avaliação da qualidade da água de cada afluente, além de identificar a carga de nutrientes e calcular a contribuição de fósforo e de nitrogênio de cada rio.

Com esses dados, a Sanepar e demais instituições que atuam em conjunto na região concluíram que as ações prioritárias de controle ambiental devem ser executadas no Rio Timbu, que sozinho é responsável por 93% do fósforo e por 92% do nitrogênio que entram na barragem. Atualmente estão em andamento 22 ações para despoluição do Rio Timbu. Fósforo e nitrogênio são os principais nutrientes responsáveis pelo surgimento de algas.

Alimentos para vários peixes

Os pesquisadores identificaram cerca de 60 espécies de algas na barragem do Iraí e que predominam três espécies. Em 97% do reservatório a maior incidência é de cianobactérias. Em função da incidência solar, da temperatura da água e da quantidade de fósforo, as algas flutuam em diversas profundidades. “Quando identificamos que as algas oscilam dentro do lago, pudemos fornecer os critérios para a área de operação da Sanepar. Agora sabemos qual é o ponto mais adequado para retirar a água em determinado dia, ou seja, na altura onde há menor concentração de algas no período”, destaca Cleverson. Outro resultado das pesquisas diz respeito às espécies de peixes. Foram identificados quais são as espécies algívoras (que se alimentam com algas) e, entre elas, as mais vorazes. Assim, foi feito o repovoamento com alevinos e peixes adultos, para que estes também auxiliem na redução das plantas.

Mapeamento aponta erosões

Em relação ao solo no entorno da barragem, o mapeamento realizado permitiu identificar as áreas mais suscetíveis à erosão. Com isso, o governo do Estado dispõe de mais informações para orientar as ações necessárias. Outra pesquisa é em relação à recomposição da mata ciliar. Já foram identificadas quais são as espécies nativas da região, sendo feito o replantio.

A próxima etapa é formar técnicos nos municípios. Eles serão preparados para fazer a seleção das sementes, produção de mudas em viveiro e o plantio. Deste programa também participam detentos do sistema penitenciário. “Este é outro aspecto a ser destacado como resultado da pesquisa: a possibilidade de promover a capacitação dos presos, que poderão ter uma profissão e ainda ter a pena reduzida, em função dos dias trabalhados”, enfatiza Cleverson. Nas pesquisas foram aplicados R$ 414 mil, provenientes da Finep.

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