Cacau, um pequeno toque de samba na Alemanha

John Macdougall/AFP

Fiel ao clichê que acompanha os brasileiros, Cacau, naturalizado alemão em 2009 e provável substituto de Miroslav Klose contra Gana, na quarta-feira, é um jogador de grande técnica que esbanja alegria de viver e fé, embora em sua carreira esportiva não haja muito samba.

Claudemir Jerônimo Barreto, mais conhecido como Cacau, é um jogador atípico, sobretudo na seleção alemã, em que o treinador Joachim Low aprecia principalmente “seu domínio de bola e sua capacidade de surpreender o adversário”, mas também para os padrões da legião de jogadores de futebol brasileiros espalhada por todo o mundo.

Ao deixar Mogi das Cruzes, próximo a São Paulo, e um pai alcoólatra, quando tinha 18 anos, Cacau, assim como muitos outros jogadores de seu país, tinha como sonho se tornar um jogador famoso no milionário futebol europeu e vestir a mítica camisa verde-amarela da seleção.

Mas, em vez disso, construiu sua vida na Alemanha como passista de uma escola do samba e recomeçou do zero, jogando em uma equipe da comunidade turca de Munique (sul).

Cacau (1,79 m, 74 kg) foi para o Nuremberg em 2001, e dois anos depois chegou a um dos principais clubes alemães, o Stuttgart, com o qual foi campeão da Alemanha na temporada 2006-2007, para depois fazer suas primeiras partidas como jogador da seleção germânica.

Nesta Copa da África do Sul, no dia 13 de junho em Durban, Cacau parece ter atingido o nível mais alto de sua carreira, quando marcou um gol contra a Austrália (4-0) com apenas 90 segundos em campo.

“Como se fosse um relâmpago, revivi episódios de minha vida, como quando meu irmão e eu, quase mortos de fome, assistíamos às partidas da Copa do Mundo pela televisão, assim como todos os momentos bons e ruins que vivi desde a minha chegada à Alemanha”, lembrou o atacante do Stuttgart.

“Minha trajetória foi muito difícil, mas sempre tentei tirar o que havia de mais positivo”, explicou recentemente este pai de dois filhos, sem nunca deixar de mencionar a Bíblia.

O jogador, de 29 anos, tranquilo e de sorriso fácil, aceita de bom grado ser apresentado como um dos estrangeiros desta seleção da Alemanha, jovem e ‘multicultural’.

Klose, suspenso da partida contra Gana depois de sua expulsão contra a Sérvia, tem um substituto lógico em Cacau, autor de 13 gols nesta temporada da Bundesliga, incluindo quatro em apenas uma partida, em fevereiro deste ano.

“Se confiarem em mim, responderei presente. Não há razão alguma para duvidar de nossa vitória sobre Gana”, disse com convicção o alemão-brasileiro.

E, se por força do destino no futuro a Alemanha tiver que enfrentar o Brasil, Cacau terá muita emoção, mas sem contradição. “Já não sou um torcedor do Brasil, mas um admirador de seu estilo de jogo e de sua técnica”, disse o nº 19 da ‘Mannschaft’.