Sob suspeita, caseiro sofre devassa

O caseiro Francenildo dos Santos Costa, mais conhecido como ?Nildo?, passou de denunciante a investigado. Depois de ter o sigilo bancário violado, ilegalmente, por funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), ?Nildo? entrou na mira da Polícia Federal (PF), que pediu à Justiça a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dele. O caseiro afirmou que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, freqüentava regularmente uma mansão alugada por ex-assessores dele de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Na casa, partilhava-se dinheiro e ocorriam festas. Palocci nega que tenha posto os pés na mansão.

O objetivo da PF é similar ao dos agentes da Caixa que vasculharam as contas do caseiro a pretexto de descobrir na raiz das declarações de ?Nildo? uma conspiração política. Pretende, segundo fontes da PF, apurar com quem ele se relaciona e qual a origem dos R$ 25 mil movimentados na conta entre janeiro e março deste ano. Com o cruzamento dos telefonemas e dos dados bancários e fiscais, a polícia quer saber se ?Nildo? foi instruído pela oposição para desestabilizar o governo.

O caseiro sustentou em depoimento ontem na PF a versão original de que o dinheiro foi depositado pelo pai biológico e reafirmou que Palocci freqüentava a mansão do Lago Sul, em Brasília, alugada por lobistas da chamada ?República de Ribeirão Preto?. Depois de depor por quase quatro horas na PF, Costa saiu decepcionado. Ele entrou como vítima de quebra ilegal do sigilo da conta na Caixa, mas saiu do depoimento como investigado por suspeita de lavagem de dinheiro. ?Faz todo sentido: a mãe dele é lavadeira?, protestou o advogado do caseiro, Wlício Chaveiro do Nascimento, após o depoimento.

?Nildo? sugeriu que o governo deveria quebrar também o próprio sigilo eleitoral, completando, a seguir, ter votado no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sobre se votaria novamente nele, respondeu que não e explicou porque: ?Olha o troco que estou recebendo. Ele (Lula) está escondendo o chefe?, disse ele, referindo-se a Palocci.

A PF explicou, por meio da assessoria, que investiga a movimentação de dinheiro do caseiro por provocação do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf). Subordinado ao Ministério da Fazenda, o Coaf considerou estranho e incompatível com o salário do caseiro o volume de dinheiro movimentado por ele e pediu que a PF averigúe.Com o rumo das investigações dado pela PF, o governo federal põe todo o aparato fiscal e policial na tarefa de devassar a vida do caseiro, iniciada com a quebra de sigilo da conta dele na Caixa e agora legitimada pelo Coaf. A PF não soube explicar o interesse do órgão, com o qual realiza ações compartilhadas. ?Nildo? foi bombardeado com perguntas, algumas hostis, e interrompeu a entrevista visivelmente constrangido. Os repórteres não deram trégua e um deles chegou a perguntar se ele não se envergonhava de receber dinheiro do suposto pai biológico. Ele entrou no carro do advogado e chorou.

Caixa já sabe quem violou sigilo

Brasília (AE) – A Caixa Econômica Federal informou ontem que já identificou a máquina utilizada para o acesso à conta e impressão do extrato do caseiro Francenildo Santos Costa e também o nome dos dois funcionários usuários do equipamento. De acordo com a Caixa, os dois foram ontem mesmo convocados a prestar depoimento na comissão de sindicância interna. Todos os dados reunidos pela investigação feita até o momento, bem como o nome dos dois funcionários, já foram encaminhados pela instituição à Polícia Federal. A Caixa não informou os nomes dos funcionários sob investigação nem o setor onde foi localizada a máquina.

Apesar de toda a pressão que vem sofrendo, a Caixa alegou que não pode divulgar o nome dos funcionários. De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, existe todo um rito para a investigação no âmbito administrativo que não pode ser quebrado sob pena de desqualificação de todo o processo. Na nota oficial a Caixa afirma que a apuração prosseguirá com toda a celeridade possível, ?observados os princípios de ampla defesa e do contraditório?. Na nota, a instituição também procura tranqüilizar os clientes alegando que o ato em apuração é um caso isolado que a própria Caixa condena.

Segundo a Caixa, a quebra do sigilo bancário ?não ocorreu em suas agências, que continuam prestando todos os serviços com segurança e qualidade?. As informações prestadas pela Caixa em nenhum momento avançam sobre os possíveis mandantes da quebra do sigilo bancário do caseiro que desmentiu, de público, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. ?Os funcionários vão depor, inclusive na Polícia Federal e essa questão certamente será colocada?, argumentou a assessoria de imprensa da empresa.

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