Serra vence Marta tira o PT de São Paulo

Após três derrotas em disputas pelo Executivo, o tucano José Serra (PSDB) foi eleito prefeito da mais importante cidade do País ontem. Ele derrotou a atual prefeita Marta Suplicy, impondo ao PT a maior derrota nestas eleições municipais. A cidade tem 7.771.503 eleitores. O tucano venceu com 55%, contra 45% da petista.

Serra concorreu ao mesmo cargo em 1988 e 1996, com resultados pífios. Em 2002, ele disputou a Presidência, mas perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo com a derrota, ele saiu fortalecido do pleito.

Com a vitória de Serra, o PSDB chega pela primeira vez ao poder na cidade.

O tucano resolveu disputar a capital paulista de última hora. Sem outro nome forte, o PSDB não teve conflitos para aderir à candidatura do ex-ministro.

Serra passou a maior parte da campanha liderando a corrida eleitoral. Ele superou Marta no primeiro turno e manteve a liderança em toda a segunda etapa.

A vitória de Serra dá força política ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), que foi o maior cabo eleitoral do candidato. O tucano se aproveitou do alto índice de rejeição da adversária, embora Marta conte com 48% de aprovação de seu governo, de acordo com o Datafolha.

Adversários dizem que Serra vai usar a Prefeitura como trampolim em 2006. Ele nega. O vice do tucano, Gilberto Kassab (PFL), foi o principal alvo do PT neste segundo turno.

O marketing da campanha de Serra se preocupou em associar a imagem do candidato ao carisma e ao “do bem”. Serra tem fama de mal-humorado e antipático. Essas características já foram responsabilizadas por derrotas de Serra em eleições passadas.

A carreira política de Serra inclui duas eleições para deputado federal e uma para o Senado, em 1994. O primeiro cargo público do tucano foi como secretário de Planejamento na gestão de Franco Montoro, de 1983 a 1986.

Na gestão de Fernando Henrique Cardoso, Serra foi ministro do Planejamento e da Saúde, o que se tornou uma de suas principais bandeiras eleitorais.

Exílio

Serra foi exilado aos 22 anos, por 14 anos, vivendo na Bolívia, Chile e depois Estados Unidos. Como presidente da União Estadual dos Estudantes em 1962 e União Nacional dos Estudantes em 1963, era “persona non grata” no Brasil depois do golpe militar de 1964.

Ele estudava engenharia na USP, mas no exterior especializou-se em economia. Foi no Chile e depois nos EUA que se aproximou de FHC, inicialmente seu professor. Os dois, entre outros, formaram o núcleo do PSDB, criado em 1988.

Serra nasceu em 19 de março de 1942, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, filho único de Francesco Serra, imigrante italiano que tinha uma barraca de frutas no mercado municipal da Cantareira, e de Serafina Chirico.

É casado com a chilena Mônica Allende (parente distante do presidente Salvador Allende, deposto em 1973), tem dois filhos, Verônica e Luciano, e dois netos, Antônio e Sofia. É apaixonado por leitura e cinema e também pelo Palmeiras.

Marta não deve ganhar ministério

Nem ministério nem embaixada de Paris. A prefeita Marta Suplicy deve ficar mesmo em São Paulo. Ela ainda não definiu seu futuro político, mas uma das possibilidades em estudo é assumir a presidência do PT paulista em 2005. Motivo: Marta precisa de um cargo com visibilidade para tentar voltar à cena política. No PT, seus amigos acham que ela pode querer concorrer ao governo. A prefeita, porém, saiu enfraquecida da eleição e na correlação de forças petista.

Eram 20h20 quando a prefeita abriu o portão de sua casa na Rua Dinamarca, nos Jardins zona sul de São Paulo, e reconheceu que havia perdido a disputa pela Prefeitura da cidade para o tucano José Serra.

PSDB já pensa no poder nacional

A importante vitória de José Serra na corrida pela Prefeitura de São Paulo deflagra o projeto do PSDB de retomada do poder nacional em 2006. Mas, mesmo tendo sob seu controle a Prefeitura da maior cidade do País, somada ao governo dos dois maiores estados brasileiros (São Paulo e Minas Gerais), os tucanos avaliam que o cenário econômico de 2005 poderá ser um fator decisivo para definir suas chances de voltar ao Palácio do Planalto em 2006.

Os dirigentes do partido acreditam que se a economia estiver muito fortalecida no próximo ano, o PSDB terá grandes dificuldades para impedir a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, independentemente do candidato que for lançado nessa disputa.

Estudos iniciais feitos pelos tucanos apontam para a manutenção de um cenário ainda pouco promissor na economia, especialmente com problemas na área de infra-estrutura, geração de empregos, distribuição de renda, além de um cenário internacional desfavorável. Se essa previsão se confirmar, os tucanos acham que a montagem de uma candidatura forte, encabeçada pelo governador Geraldo Alckmin, poderá se sobressair.

O PSDB é o grande vitorioso do 2.º turno das eleições municipais, com a conquista de cinco capitais – São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Teresina e Cuiabá. O segundo lugar ficou com o PT, que elegeu os prefeito de três capitais – Vitória, Fortaleza e Porto Velho. Ao ganhar capitais expressivas e impor derrotas ao PT, o PSDB estabelece um contraponto ao sucesso dos petistas no 1.º turno, quando o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou seis capitais e os tucanos não venceram em nenhuma. O resultado reforça a polarização entre os dois partidos que serão os principais adversários na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva daqui a dois anos, em 2006.

O PT e o PSDB estiveram em confronto direto em 10 cidades neste 2.º turno, sendo quatro capitais. Nestas, os tucanos venceram em três (São Paulo, Curitiba e Cuiabá), enquanto o PT elegeu o prefeito de Vitória. Nas outras seis cidades, o PT teve o melhor desempenho e venceu em Cariacica (ES), Contagem (MG), Osasco (SP), Santo André (SP), enquanto o PSDB foi o vitorioso apenas em Ponta Grossa (PR). Em Diadema (SP), a disputa foi apertadíssima e apenas o resultado final indicará o eleito. Das 23 cidades em que disputou neste 2.º turno o PT venceu em 8 e o PSDB venceu em 7 das 20 cidades disputadas (94,6% do votos apurados).

“O resultado mostra um equilíbrio de forças entre PT e PSDB. O eleitor distribuiu os votos para não criar uma única força hegemônica”, disse a cientista política Lúcia Hipólito, referindo-se a dois fatos: o governo federal é do PT do presidente Lula e o partido foi o grande vitorioso do 1.º turno. Para ela, as eleições municipais funcionam como “freio de arrumação” do jogo político.

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