Scheinkman espera que mercado tenha ?ataque de sanidade?

O economista José Alexandre Scheinkman, ex-colaborador da campanha de Ciro Gomes (PPS) e um dos acadêmicos brasileiros mais respeitados no exterior, critica nesta entrevista à Agência Estado as avaliações dos investidores estrangeiros sobre o Brasil. Por telefone, de Nova York, ele diz que, quando o megainvestidor George Soros fala que o Brasil está prestes a quebrar, não está fazendo uma análise “isenta”, mas enviesada por seus próprios interesses.

Guru de boa parte da nova geração de economistas brasileiros, o professor de Princeton fala pela primeira vez desde que encerrou sua participação na campanha de Ciro e diz que não está “tomando partido” no segundo turno.

De acordo com o economista, o melhor remédio no momento é deixar o dólar subir, em que pese o custo para quem está endividado na moeda americana. Scheinkman surpreende ao afirmar que, na sua opinião, o próximo presidente da República não deve se preocupar em ter um “operador de mercado” na presidência do Banco Central (BC).

Agência Estado – Por que sua participação na campanha de Ciro Gomes foi tão restrita?

José Alexandre Scheinkman – Quando conversei pela primeira vez com Ciro Gomes, combinei que meu envolvimento no programa eleitoral seria relativamente limitado. Quando a Agenda Perdida (documento com propostas preparado em conjunto com economistas) ficou pronta, a última revisão do programa de Ciro estava aprovada por todos os partidos.

Agência Estado – O que o senhor acha de os candidatos ressuscitarem políticas industriais como parte central de seus programas?

Scheinkman – Falar em política industrial é bastante popular, porque você dá dinheiro para grupos bem organizados e que, evidentemente, têm bastante poder. No mundo inteiro se faz isso. Acho que apresentar política industrial como maneira de resolver o problema de balanço de pagamentos do Brasil é uma coisa que não tem base teórica, nem empírica.

Agência Estado – Qual dos dois presidenciáveis o senhor apoiaria agora?

Scheinkman – Os dois candidatos identificam problemas importantes, mas nem sempre concordo com as políticas propostas para resolver esses problemas. Estava com muita esperança de que o Ciro Gomes seria uma pessoa que tomaria as medidas que eu achava que o Brasil necessita. Não estou pessoalmente confiante, mas também não estou muito pessimista nem sobre o Serra nem sobre o Lula. Não estou tomando partido na disputa.

Agência Estado – Como o senhor avalia esse momento de crise e incerteza sobre a sucessão?

Scheinkman – Estamos passando por momento difícil. Na minha opinião, os investidores estão excessivamente pessimistas com o Brasil. Tenho esperança de que, uma vez que as coisas fiquem mais claras, ocorra um ataque de sanidade nessas pessoas. Estamos em uma época, por causa da alta volatilidade, que cria um clima favorável a que pessoas com certos interesses explorem a situação e comecem a falar que o Brasil vai quebrar na semana que vem. Quando Soros fala algo, tem sempre uma posição por trás  não é um observador isento.

Agência Estado – O senhor acredita que, se eleito, Lula vai manter todos os compromissos assumidos na campanha?

Scheinkman – Tenho uma certa esperança de que sim. Tanto por acreditar na honestidade dessas pessoas, como também porque é interesse deles. Ninguém quer governar um país que tem crise cambial. Acho que qualquer presidente quer ter sucesso, e a idéia de jogar o país numa reestruturação da dívida ou numa crise cambial tornaria impossível o sucesso.

Agência Estado – A centralização do câmbio pode se tornar uma saída para a crise cambial, como prevêem alguns economistas?

Scheinkman – A centralização de câmbio traz muita oportunidade de corrupção e muita arbitrariedade, porque é o Banco Central decidindo quem tem direito a dólar a um certo preço. Neste momento de crise, o melhor remédio é deixar o dólar subir e ir para onde deve ir. Vai ser difícil para quem estiver endividado em dólar. Quem se endividou em dólar vai continuar passando por maus bocados, mas o Brasil é um país no qual existe uma quantidade enorme de necessidades que são muito mais prementes do que ajudar quem se endividou em dólar.

Agência Estado – O próximo presidente do BC deve ter o perfil de um operador de mercado?

Scheinkman – No Brasil, criou-se uma convenção de que o presidente do BC deve ser um operador de mercado. A idéia de que o Alan Greenspan sentaria na mesa do Fed (o BC americano) é hilariante. Tanto nos BCs da Europa quanto no Fed já houve presidentes com experiência na indústria financeira, mas não propriamente operadores de mercado. Acho que nem Lula, nem nenhum presidente do Brasil, deveria se preocupar em achar para a presidência do BC alguém com experiência particular em mercados financeiros.

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