Rondônia sob risco de intervenção federal

Porto Velho – A comissão externa do Senado Federal encarregada de apurar denúncias de corrupção em Rondônia decidiu ontem pedir o afastamento de 22 dos 24 deputados estaduais e anunciou que pode recomendar intervenção federal no estado. O relator, Demóstenes Torres (PFL-GO), disse ontem que existe uma ?quadrilha? agindo na Assembléia Legislativa. ?Temos provas inequívocas contra esses deputados. São bandidos. Esses delinqüentes precisam ser afastados?, afirmou.

Torres esteve ontem na Polícia Federal (PF), no Ministério Público (MP) e no Tribunal de Justiça (TJ) de Rondônia. Ele disse que os órgãos existentes no estado têm condições de afastar os deputados. ?Se isso não acontecer, vamos ter de agir em Brasília mesmo, através da Justiça. O que não podemos permitir é que essa gangue continue agindo?, acrescentou.

Torres requisitou que o procurador-geral de Justiça de Rondônia, Abdiel Ramos Figueira, interponha na Justiça Estadual uma medida cautelar propondo o afastamento dos 22 deputados.

Permaneceriam na Assembléia apenas os deputados Neri Firigolo (PT), o único que, segundo a PF, não está envolvido no desvio de verba de gabinete, e Chico Paraíba (PMDB).

O relator da comissão externa do Senado encarregada de apurar denúncias de corrupção em Rondônia adiantou que não pretendia ouvir nenhum deputado no estado porque está constatada a responsabilidade de cada um deles nas denúncias.

Torres também disse que alguns mentiram em depoimento à comissão, mas não revelou quem. Em relação ao governador Ivo Cassol (PSDB), ele disse que, se for comprovado o envolvimento com corrupção, também serão tomadas medidas para ?moralizar? o governo de Rondônia. ?A comissão tem indícios do envolvimento do governador. Nas fitas, ele aparece oferecendo propina aos deputados. Estamos obtendo a degravação das fitas, até porque temos de tomar uma posição quanto a Cassol?, afirmou.

Segundo Torres, está caracterizado que ele cometeu crime de corrupção ativa. O relator da comissão externa do Senado encarregada de apurar as denúncias de corrupção não descartou a hipótese de haver outros crimes. Por isso, adiantou que a comissão também recomendará a cassação de Cassol. ?A própria Assembléia deverá abrir o processo, mas depois de afastados e cassados os deputados envolvidos com corrupção. Os outros (suplentes que tomarem posse) deverão iniciar o impeachment?, declarou.

O senador Sibá Machado (PT-AC) afirmou acreditar que é preciso saber até onde há envolvimento do governador com as denúncias.

?Ele aparece em gravações oferecendo dinheiro aos deputados, mas depois diz que estava simulando para que os parlamentares se entregassem. Mas isso gerou um fato, que deve ser apurado?, julga.

Fitas

Após troca de acusações entre deputados e Cassol a Casa começou a analisar há cerca de dois meses uma acusação que pedia a nulidade do mandato de Cassol. Diante disso, o governador entregou para a Rede Globo de Televisão trechos de fitas gravadas por ele, nas quais deputados lhe pediam um ?mensalão? de R$ 50 mil. Um total de sete parlamentares foi afastado e vidros das portas do Legislativo foram quebrados em manifestações.

Depois disso, a Rede Bandeirantes de Televisão pôs no ar outros trechos das fitas gravadas por Cassol. Nelas, o governador é quem oferecia dinheiro para os deputados e revelava que pagava mesada a parlamentares da base aliada e ainda a integrantes do Ministério Público (MP) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mais tarde, Cassol revelou que era uma ?simulação? para que os deputados admitissem o que queriam.

Na última semana, a PF apreendeu na Assembléia um microcomputador portátil onde havia folhas de pagamento de gabinetes de deputados. Foi revelado que parlamentares desviavam dinheiro de verba de gabinete por meio de funcionários fantasma.

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