Rio abre guerra ao Comando Vermelho

Rio – O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, elegeu o Comando Vermelho como principal alvo de sua estratégia para baixar os índices de criminalidade do Rio. É com o objetivo de quebrar o que ele considera a espinha dorsal do crime na cidade que o secretário está sustentando quase três semanas de ocupação e embates diários na Vila Cruzeiro e na Chatuba, favelas adjacentes ao Complexo do Alemão, na zona norte, considerado o quartel-general da facção. ?O Comando Vermelho é o nosso alvo porque é hoje responsável por mais de 50% dos crimes no Rio?, disse Beltrame.

Aos que criticam a ocupação do Alemão, Beltrame disse: ?Sabemos muito bem o que há lá e vamos continuar até atingir nosso objetivo. As ações estão sendo guiadas por um trabalho de inteligência. Não chegamos ainda nem à metade do que queremos?. Ele lamenta as mortes de moradores sem ligação com o tráfico, mas adota o pragmatismo ao sustentar que não tem alternativas. Os confrontos, diz ele, são conseqüência inevitável da reação. ?Infelizmente, não tem outro jeito. Lamento cada morte, trabalhamos para que não aconteça, mas a cada metro que avançamos o ataque é feroz?, argumenta. ?Não posso fazer um bolo sem quebrar os ovos?, diz. O conflito na Vila Cruzeiro deixou, até agora, ao menos 16 mortos e quase 50 feridos à bala.

Beltrame disse que a execução de dois policiais em Oswaldo Cruz por traficantes do Alemão no início do mês só precipitou a ocupação da região, uma das ?quatro ou cinco? em que planeja uma atuação semelhante. Ele não revela os outros locais, mas não nega que está de olho nos núcleos de violência do CV, como Alemão e Mangueira, na zona norte, e nas favelas sob ameaça da facção, como a Rocinha, na zona sul.

Troca de uniforme

Devido à exposição da população às balas perdidas, Beltrame estuda mudanças no uniforme do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e na utilização do carro blindado da unidade de elite da PM, o ?caveirão?. Pensa em substituir por outra cor o preto das fardas e quer que os alto-falantes do blindado sejam usados para alertar a população e se posicionar ao lado dela, em vez de ameaçá-la. A estratégia é parecida com a já aplicada pelo Exército.

O secretário também está promovendo modificações nos batalhões, extinguindo unidades para dar mais ênfase ao policiamento de área. Durante a ocupação da Vila Cruzeiro, a Secretaria de Segurança montou uma pequena central de inteligência no Batalhão da PM de Olaria (16.º BPM).

Beltrame conquistou o aval do governador para ir adiante nas operações. Sustenta que ocupações como a do Alemão já são parte da política de segurança do governo que, no seu planejamento, terá pelo menos três etapas. A primeira passa pela repressão e recuperação de áreas dominadas pelas quadrilhas e maior ostensividade. Em seguida, promete que as ações de inteligência renderão frutos mais contundentes. A última etapa, diz, é a concretização de um novo tipo de policiamento local, que deverá ser acompanhado de ações sociais. Isto significa que a polícia não pretende mais abandonar áreas como o Complexo do Alemão.

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