Relatório deve apontar falha humana em tragédia com Boeing da Gol

O relatório final sobre as causas do acidente entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy, ocorrido há exatamente um ano, vai apontar uma série de falhas humanas como fatores determinantes para a tragédia que deixou 154 mortos no norte de Mato Grosso. Embora a investigação aeronáutica não fale em culpados, a conclusão lógica é de que o somatório de erros cometidos por controladores de Brasília (Cindacta-1) e pelos pilotos americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, levou à colisão das aeronaves.

O documento, que já concluiu a etapa de investigações e está na fase de conclusões finais, descarta falhas ou panes nos equipamentos de comunicação, no transponder (conjunto de antenas que estabelece contato com os radares em terra) e no sistema anticolisão (TCAS, na sigla em inglês) do jato. Não foram encontradas evidências de que a cobertura de radar na área do acidente tenha influenciado na tragédia – afastando a suspeita de um ?buraco negro? na região.

Em linguagem técnica, evitando juízos de valor, o relatório detalha os ?fatores contribuintes? para a colisão. Relata que os americanos deixaram de tomar as providências devidas em caso de falha de comunicação, como digitar no transponder o código 7600. A grande dúvida é o motivo do desligamento do aparelho. Diante da falta de dados técnicos, é provável que a comissão decida só indicar hipóteses, como erro de digitação ou o acionamento indevido de algum botão.

Contramão

Paladino e Lepore também não questionaram o controlador do Cindacta-1 sobre a divergência entre o plano de vôo solicitado – 37 mil pés de São José dos Campos (SP) a Brasília e, em seguida, 36 mil pés até Manaus – e o supostamente autorizado – 37 mil pés durante todo o trajeto. Com isso, o Legacy passou a voar na contramão da aerovia UZ6, entrando em rota de colisão com o Boeing.

É a partir desse instante que a conduta dos controladores de vôo passa a ser preponderante para a tragédia. Ao perderem o contato com o Legacy, eles deveriam ter programado em seus consoles cinco freqüências alternativas de rádio, o que não foi feito, conforme perícia realizada nos equipamentos. Essa constatação e as recomendações de segurança emitidas nos últimos meses pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sugerem uma falha na formação dos controladores. Tudo leva a crer que eles não sabiam como agir nesses casos.

A reportagem tentou contato com os advogados dos controladores processados criminalmente pela tragédia, mas até as 20 horas de ontem não obteve retorno. O advogado criminalista Theodomiro Dias Neto, defensor dos pilotos americanos, preferiu não se manifestar sobre o relatório do Cenipa. ?É preciso ter um conhecimento global do relatório para emitir opiniões.?

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

Voltar ao topo