Quarenta cabeças já rolaram

Brasília – As denúncias de corrupção nos Correios e de pagamento de mesada para deputados votarem a favor do governo são as duas faces de um escândalo político que provocou o maior número de demissões na história recente do país – 40 cabeças já rolaram no governo, nos partidos e nas estatais. Num período curto de dois meses, a crise política já custou a renúncia de oito dirigentes partidários, inclusive dos ex-presidentes do PT, José Genoino, e do PTB, Roberto Jefferson, e a demissão de 32 integrantes do governo, entre os quais o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, e de empresas estatais.

O escândalo obrigou até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tirar o status de ministro do secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, um dos alvos da oposição. Gushiken está sob ataque e deve ser ouvido pela CPI dos Correios sobre os contratos de publicidade do governo, os anúncios de fundos de pensão em publicações de seu cunhado e os contratos da empresa de seus ex-sócios, a Globalprev, com oito fundos de pensão. Gushiken passou a subordinar-se à Casa Civil, para proteger Lula.

Quando a crise começou em 14 de maio, com a divulgação da gravação do pagamento de propina para um funcionário de quarto escalão dos Correios, o governo Lula teve uma resposta tímida. Foram afastados de seus cargos apenas três funcionários dos Correios: o diretor de Administração, Antônio Osório Batista, o chefe de Departamento Maurício Marinho (flagrado cobrando a propina) e o assessor Fernando Godoy. Vinte dias depois Lula determinou aos ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e das Comunicações, Eunício Oliveira, que demitisse toda as diretorias dos Correios e do IRB – onde homens de Roberto Jefferson operavam supostos esquemas de corrupção.

Veio à tona, então, Marcos Valério Fernandes de Souza, dono das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, que têm vários contratos no governo e que seria o caixa do PT para pagar mesada a deputados do PP e do PL. A imagem do PT foi para a lona e, de revelação em revelação, sua direção caiu. "Esta crise é tão profunda, que além de atingir o governo, atinge também a prática política vigente. O Roberto Jefferson desnudou os costumes políticos e o aparecimento de Marcos Valério ampliou o tamanho da crise", avalia o vice-líder do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), integrante da CPI dos Correios.

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