Presidente da Caixa se demite e delata Palocci

O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, também deixou ontem o cargo. Em nota assinada por ele e divulgada pela Caixa quase duas horas após o encerramento do seu depoimento à Polícia Federal, quando foi indiciado pelo crime de violação de sigilo, Mattoso assegura que não foi o responsável pelo vazamento. ?Não fui o responsável pelo vazamento da informação e estou convicto de que nenhum empregado da Caixa deu causa à divulgação indevida, atuando nos estritos limites da legalidade?, diz Mattoso na nota. Para o seu lugar, foi nomeada Maria Fernanda Ramos Coelho, funcionária de carreira da CEF.

No depoimento à Polícia Federal, o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, confessou ter entregue em mãos ao então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, um envelope com os extratos bancários do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Ao final do depoimento, que durou duas horas, Mattoso foi indiciado em dois artigos do Código Penal, que estabelecem pena de seis anos de reclusão. Palocci também passa a ser alvo da investigação da PF e deverá ser convocado para falar na segunda etapa do inquérito. O depoimento de Mattoso causou forte impressão nos policiais. ?Foi um depoimento corajoso, mas de alguém arrasado?, resumiu o delegado Rodrigo Carneiro, titular do inquérito.

A PF vai agora concluir as perícias e fazer o cruzamento de dados e depoimentos para levantar toda a cadeia de comando envolvida no crime. Caso haja mais de três envolvidos, eles serão indiciados também por formação de quadrilha, risco que correm tanto Mattoso como Palocci e os demais dirigentes, quase todos petistas, envolvidos no episódio. Entre os demais passíveis de indiciamento até agora mapeados por terem participação central no caso, está o consultor da Presidência da Caixa Ricardo Schumann, amigo de Mattoso e ex-presidente da Companhia Metropolitana de Habitação da Prefeitura de São Paulo na gestão de Martha Suplicy. Foi ele que recebeu a ordem de Mattoso para levantar os dados do caseiro e transmitiu a ordem aos subordinados da sua confiança.

Correm o mesmo risco a superintendente nacional de Gestão de Pessoas da Caixa, Sueli da Silva Mascarenhas, intermediária da ordem e o gerente de conta Jeter Ribeiro de Souza, que confirmou ter feito o acesso da conta e a impressão dos extratos do caseiro. A entrega dos dados ao ministro, conforme Mattoso relatou à polícia, foi feita na noite do último dia 16 de março, dois dias depois de Francenildo revelar que Palocci era freqüentador regular da mansão do Lago Sul em que lobistas de Ribeirão Preto promoviam negócios ilícitos e festas com garotas de programa.

O presidente da Caixa relatou que, ao longo do dia 16, foi advertido por técnicos da área financeira da instituição. ?Eles me alertaram da atipicidade das movimentações bancárias do caseiro?, disse Mattoso à polícia, relatando que comunicou o fato a Palocci e determinou a Schumann que obtivesse cópias dos extratos, entregues na noite do mesmo dia ao ministro. 

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