Pior temporal dos últimos anos paralisa São Paulo

Aviões no Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, também afetados pela chuva.

São Paulo – Um fenômeno meteorológico raro foi o que provocou as fortes chuvas e rajadas de vento que atingiram o estado de São Paulo. De acordo com o meteorologista Marcos Massari, do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da capital paulista, a entrada de ventos quentes que vieram da Amazônia e o encontro de uma frente fria vinda do sul do País com temperaturas mais elevadas do oceano, provocaram os temporais.

?A frente fria intensa encontrou com os ventos amazônicos e o ar mais quente e úmido no Paraná, o que ajudou a formar nuvens mais carregadas. Por isso, ocorreram as fortes chuvas. O fenômeno é raro e também foi responsável pelos tornados que atingiram o interior?, explicou Massari.

O temporal que atingiu São Paulo entre a tarde de terça-feira e o início da manhã de ontem foi o segundo maior desde 1943, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) – o órgão faz as medições pluviométricas desde a década de 40. Registros do instituto em sua estação, localizada no mirante de Santana (zona norte da capital), apontam que foram acumulados 140,4 mm de chuva. O recorde ocorreu no dia 21 de dezembro de 1988, com 151,8 mm.

Os fortes ventos de até 150 quilômetros por hora varreram o interior paulista. Em Indaiatuba, na região de Campinas, um tornado atingiu a zona industrial, danificando vários galpões de fábricas.

Na manhã de ontem, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou, às 8h30, um pico de 119 quilômetros de lentidão na cidade. Foram registrados 95 pontos de alagamento na parte da manhã, sendo que 34 deles estavam intransitáveis, resultado da chuva de cerca de 15 horas que atingiu a cidade de São Paulo.

As zonas norte e leste foram as mais atingidas pela chuva e as marginais Tietê e Pinheiros ficaram congestionadas e interditadas em vários trechos. O Rio Tietê transbordou e os rios Pinheiros e Tamanduateí, que ficaram sem ter vazão, acabaram transbordando também. Na altura da Ponte das Bandeiras, perto do centro, a água tomou as pistas da Marginal Tietê. Guindastes que fazem a obra de aprofundamento da calha do rio ficaram submersos. Segundo o Corpo de Bombeiros da capital, aconteceram 398 ocorrências, 106 delas relacionadas a problemas com a chuva, como queda de árvores, enchentes, pessoas ilhadas e desabamentos pequenos.

O temporal deixou cerca de 18 pessoas ilhadas e provocou o desabamento de quatro casas – duas na zona sul e uma na zona leste. As polícias civil e militar não registraram grandes ocorrências na cidade. Com os veículos parados por causa dos alagamentos, o maior temor dos motoristas era com relação a arrastões, o que acabou não acontecendo.

A CET suspendeu o rodízio de veículos e fechou o acesso à Marginal Tietê em diversos pontos para evitar que os carros ficassem presos em alagamentos, principalmente nos trechos embaixo das pontes. Os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) ficaram parados nas linhas paralelas às marginais.

Mortes

Seis pessoas morreram por causa das fortes chuvas. De acordo com a Defesa Civil de São Paulo, os óbitos foram registrados nos municípios de Capivari, Ibiúna, Mairinque, Mairiporã e Guarujá. Entre as causas dos acidentes estão três desabamentos de residências, quedas de árvores, queda de placas de trânsito e afogamento. Na capital paulista foram registradas cerca de 60 ocorrências desde a noite de anteontem, entre as quais estão três desabamentos de barracos e 11 deslizamentos.

Serra explica

Ao analisar as conseqüências das fortes chuvas que caíram na capital paulista, durante visita feita ontem à CET, o prefeito paulistano José Serra afirmou que ?não dá para prever tudo exatamente? e que passou a noite em claro dando orientações para resolver os problemas. ?Quando cai uma chuva com a intensidade que caiu, é muito difícil que não haja problemas. E não dá também para prever tudo exatamente aonde vai ser, porque isso é uma questão da distribuição da chuva nas cabeceiras da própria cidade?, disse Serra. ?E aí, o que tem que se fazer é essa mobilização que fizemos. Setecentas pessoas trabalhando à noite, da Defesa Civil e da CET, além de um sistema de acompanhamento e de monitoramento. Isso é muito importante. Eu acompanhei a noite inteira cada problema que havia. E, em cada problema que foi possível, defini uma orientação junto com nossos secretários e presidentes de empresas?, revelou o tucano.

Não estão previstos novos temporais para São Paulo e região, que deve ter tempo ensolarado até domingo.

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