PF quer abrir “caixa-preta” das propinas

Marcello Casal Jr / ABr

Lídio prestou depoimento
e negou propinas.

Brasília – A Polícia Federal está convencida que só há um caminho para abrir a "caixa-preta" do suposto esquema de arrecadação de propinas no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) em favor do PTB do deputado Roberto Jefferson (RJ). É preciso rastrear as empresas que indicaram a Assurê Internacional de Corretagem de Resseguros para intermediar operações com estatais ou empresas de economia mista.

Os investigadores estão agora levantando nomes de pessoas ligadas a Furnas, Infraero e Eletronuclear -companhias que teriam recorrido à Assurê, pertencente ao corretor Henrique Brandão, amigo e suposto sócio de Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira, genro do deputado Jefferson.

Os policiais esperavam que o ex-presidente do IRB Lídio Duarte, que ontem prestou depoimento de três horas, confirmasse as suspeitas, ligando a arrecadação de propinas no IRB ao PTB. Mas Duarte negou. Ele classificou de "fantasias" as informações publicadas pela revista Veja -que, com base numa fonte não revelada, afirmou que Duarte teria sido pressionado por Henrique Brandão para levantar no IRB uma "mesada" de R$ 400 mil mensais para o PTB.

Duarte afirmou que se afastou da presidência do órgão por razões políticas. Considerado liberal e adepto da privatização de toda a área de seguros no País, ele disse que deixou o cargo ao sentir que o IRB fora alijado do processo de discussão de uma nova política para o setor.

Contou, ainda, ter sido nomeado por influência do falecido deputado José Carlos Martinez (PTB-PR) e revelou que Jefferson pediu a indicação de afilhados para o IRB -embora sem sucesso, assegurou. Duarte afirmou ter explicado ao deputado que a única porta de entrada no instituto era a do concurso público.

Foi em sua gestão, admitiu Duarte, que a Assurê passou a atuar nas operações de resseguros junto ao IRB. Ele garantiu, porém, que a corretora dividia o mercado com outras 22 empresas do gênero. Negou que a empresa de Henrique Brandão dominasse 54% dos contratos com estatais ou empresas de economia mista, como chegou a ser divulgado.

O controle exercido por acionistas sobre as atividades do instituto, segundo Duarte, impediria a arrecadação de propina. Ele explicou também que as corretoras que atuavam no IRB poderiam ser legalmente indicadas pelas empresas interessadas nos contratos de resseguro. Os policiais que investigam o caso acham as relações do IRB com as corretoras estão numa espécie de limbo, onde a falta de critérios legais joga quase todas as ações no campo das relações de mercado.

É por essa razão que a suspeita sobre a arrecadação de uma suposta "mesada" ao PTB se transferiu para dirigentes de empresas que, através de tráfico de influência em troca de propinas, poderiam ter indicado a Assurê ao IRB. O ex-presidente do IRB foi ouvido no inquérito policial como testemunha, o que o obriga a dizer a verdade e a não se omitir. A polícia vai checar os detalhes de seu relato.

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