Lentidão

Parentes de vítimas do acidente da Gol reclamam da Justiça

A queda do avião da Gol em 2006 pôs fim aos 34 anos de casamento de Neuza Felipeto Machado e Valdomiro Henrique Machado. Valdomiro era uma das 154 pessoas que estava no vôo 1907, cujo avião se chocou com um jato Legacy, fabricado pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), quando ia de Manaus para Brasília. Todos a bordo, passageiros e tripulação, morreram.

Na véspera dos dois anos do acidente, que ocorreu em 29 de setembro de 2006, Neuza Machado participou de uma missa em homenagem às vítimas e durante a celebração lembrou a dor das famílias durante os dias que se seguiram à tragédia. “Foram dias de espera e angústia até que nossos parentes foram localizados”.

O corpo do marido de Neuza foi entregue à família no dia 12 de outubro, data que ela fez questão de lembrar ser o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Pouco antes da missa, em entrevista à Agência Brasil, Neuza afirmou que nesses dois anos foram poucos os resultados das investigações sobre o choque entre o avião da Gol e o jato Legacy e considerou que a Justiça age com lentidão.

“Estamos sempre angustiados porque percebemos que nossa Justiça é muito lenta. A justiça que pedimos não é a prisão de quem quer que seja, mas que a verdade venha a tona para corrigir os erros, para não acontecer outro acidente desse porte”, disse.

A reclamação sobre o ritmo e os caminhos da investigação é recorrente entre os parentes de vítimas. Anne Caroline Rickli, que integra a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907 e teve a mãe morta no acidente, cobra a conclusão do relatório sobre o choque entre os dois aviões. “Já faz dois anos e esse relatório não foi apresentado. Os pilotos do Legacy não vieram ao Brasil depor e acreditamos que eles não vão vir”.

Para ela, a demora na conclusão do caso alonga o sofrimento das famílias. “A lentidão da Justiça e do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) em liberar o relatório final se arrasta há dois anos e as pessoas não conseguem fechar o ciclo, enterrar seus mortos. Eles ficam vivos enquanto isso não é encerrado pelo Judiciário e a Aeronáutica”.

Rinaldo Barbosa – que teve o sobrinho Alexandre Barbosa, de 34 anos, morto na queda do avião – também reclama da demora no resultado. “Estamos esperando a Justiça brasileira porque o inquérito em si não foi encerrado, já se passaram dois anos e até agora não temos resultados”. O sobrinho de Rinaldo era ecologista, estava morando em Manaus e viria a Brasília para participar de um seminário e rever os parentes.

Passados dois anos do acidente, há famílias que dizem não encontrar forças para pedir justiça. É o caso dos pais do bancário Marcelo Paixão Lopes, último passageiro a ter o corpo identificado. “No momento, queremos encerrar o que passou e caminhar só com a saudade. O importante era ele e meu filho não virá de volta”, responde a mãe de Marcelo, Creuza Maria Paixão, ao ser questionada sobre o resultado das investigações nesses dois anos.

A opinião é compartilhada por José Lopes da Cruz, pai do bancário, que voltava de uma viagem a trabalho. “A falta dele nos contagiou tanto que nos espelhamos só nele, não temos revolta”. Emocionado, o casal lembrou a angústia e a expectativa prolongada de esperar a identificação de 153 corpos para só então cessar a procura pelo filho.