Para apoiar Lula, PMDB ganha três ministérios

Três nomes do PMDB fazem parte da equipe do governo Lula a partir de agora. O porta-voz da Presidência da República, André Singer, anunciou, no início da tarde de ontem, os nomes do senador Hélio Costa (MG), para o Ministério das Comunicações, o deputado Saraiva Felipe (MG), para o Ministério da Saúde, e para o Ministério de Minas e Energia, Silas Rondeau. Estas são as primeiras mudanças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva visando a reforma ministerial. Os novos ministros tomarão posse na próxima sexta-feira, quando serão anunciadas novas alterações no ministério.

Brasília – De acordo com o porta-voz da Presidência da República, André Singer, Lula deve anunciar novas alterações no Ministério, mas não disse se serão anunciadas mudanças no comando das estatais. Singer também não soube dizer se o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, decidiu sua saída no encontro que teve com Lula, na noite de terça-feira, no Palácio do Planalto.

Lula aproveitou o pronunciamento de Singer e, por meio de seu porta-voz, agradeceu pelos ?inestimáveis serviços prestados? ao País por Eunício Oliveira, que deixou o Ministério das Comunicações, Humberto Costa, que saiu da Saúde, e Maurício Tolmasquim, que estava interino no Ministério de Minas e Energia desde a transferência de Dilma Rousseff para a Casa Civil.

Os três novos ministros foram recebidos por Lula, na noite de terça-feira, no Palácio do Planalto, juntamente com o senador José Sarney (PMDB-AP), o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.

O impasse em torno do número de ministérios que ficariam com o PMDB atrasou o anúncio dos novos ministros. Lula considerava que o partido estaria bem representado no governo com três pastas, mas os líderes do PMDB queriam mais uma. E nunca esconderam que gostariam de ficar também com o Ministério das Cidades, mas o assunto não avançou.

O Ministério da Previdência foi retirado da cota do PMDB e será ocupado por um técnico, que terá como principal tarefa adotar as medidas necessárias para reduzir o déficit no setor. Na dança das cadeiras, Ricardo Berzoini deve reassumir seu mandato de deputado para ajudar o governo a reforçar sua base na Câmara. Seu substituto no Ministério do Trabalho pode ser Aldo Rebelo (PCdoB), uma vez que a pasta da Coordenação Política será extinta.

Em troca pela participação mais ampla no governo, o PMDB garante a fidelidade, de saída, de 19 dos 23 senadores e 52 dos 85 deputados. Mas, nas conversas com o partido, ficou claro que o apoio se restringe ao presidente e ao governo, sem compromissos para defender o PT.

O presidente Lula quer fazer também mudanças nas presidências das estatais, substituindo políticos que vão disputar as eleições por nomes técnicos. Pelo critério, deverão sair Eduardo Dutra, da Petrobras, e Carlos Wilson, da Infraero.

Silas Rondeau: Minas e Energia

O presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, foi indicado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) para substituir Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia. O engenheiro maranhense tem perfil técnico e está no governo desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Sarney sugeriu sua nomeação para a presidência da Eletronorte. A chegada de Rondeau ao ministério é considerada uma recompensa à fidelidade de Sarney ao governo. Em março, sua filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), era cotada para assumir uma pasta na tentativa fracassada de reforma ministerial. Em abril, a bancada do PMDB no Senado liderou o veto a José Fantine, escolhido por Dilma para presidir a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A manobra foi interpretada como uma represália à atual chefe da Casa Civil, que havia rejeitado a indicação do partido para o comando da Eletronorte.

Hélio Costa: Comunicações

Indicado pela bancada do PMDB no Senado, Hélio Costa, de 65 anos, é considerado um dos parlamentares mais influentes do partido. Ele preside a CPI da Imigração Ilegal, que investiga a exploração de brasileiros no exterior. Ex-repórter de TV, o senador impulsionou o início da carreira política com a compra de uma emissora de rádio em sua cidade natal, Barbacena (MG). Eleito deputado constituinte em 1986 pelo PMDB, foi um dos principais adversários do ex-governador Newton Cardoso no partido e integrou uma ala dissidente com Pimenta da Veiga e Itamar Franco, que depois transferiu-se para o PL. Em 1990, depois de mais uma passagem pela TV, Hélio Costa chegou duas vezes ao segundo turno das eleições para o governo de Minas Gerais: em 1990, pelo PRN, e em 1994, pelo antigo PP. Em sua passagem pelo PRN, foi a voz de Fernando Collor na TV.

José Saraiva Felipe: Saúde

José Saraiva Felipe nasceu em 26 de março de 1952 e ingressou no PMDB em 1981. Está no seu terceiro mandato como deputado federal. Médico formado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é mestre em saúde pública e tem a mesma especialização do ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Neste ano, chegou a ocupar a liderança do partido na Câmara dos Deputados, numa briga entre as alas peemedebistas pelo controle da bancada. No episódio, ele e o líder da bancada, José Borba (PMDB-PR), travaram uma disputa pelas assinaturas dos deputados. Saraiva é um dos poucos peemedebistas com ligação às três alas da legenda. Ele é ligado à ala de centro do presidente do partido, Michel Temer (SP), mas tem relações com o grupo de oposição de Anthony Garotinho (RJ) e já foi secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, durante o governo José Sarney.

Terceira mudança na equipe de governo

Brasília – A crise política detonada pelas denúncias de corrupção feitas pelo deputado federal Roberto Jefferson levou o presidente Lula a realizar sua terceira reforma ministerial em dois anos e meio de gestão. A primeira reforma do governo petista foi feita em janeiro de 2004, em uma tarefa que o próprio Lula descreveu como ?dolorosa mas também necessária?. O presidente promoveu a saída de dez nomes de primeiro escalão. Ricardo Berzoini deixou a pasta da Previdência para o senador Amir Lando (PMDB-RO) e assumiu o Ministério do Trabalho, em substituição a Jaques Wagner. O ex-ministro do Trabalho foi deslocado para a Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Tarso Genro assumiu o Ministério da Educação, no lugar de Cristovam Buarque. Jaques Wagner, que a princípio não estava satisfeito com sua saída do Ministério do Trabalho, ganhou maior força. Como novo chefe da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ele passou a fazer parte da coordenação política do governo, junto com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o líder do governo na Câmara, Aldo Rebello (PCdoB-SP), guindado para a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais. O deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) tornou-se o chefe do ministério que reuniu as pastas da Assistência Social e a da Segurança Alimentar. O líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira, ficou com a pasta das Comunicações. Por fim, o líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos (PE), assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia, no lugar de Roberto Amaral, que pediu demissão antes de Lula oficializar sua saída do governo.

Meses depois, a reforma ministerial voltou a ser assunto em voga, com rumores de que o PP – mais poderoso após a entrada de Severino Cavalcanti (PE) na presidência da Câmara – seria contemplado com um lugar. Outro partido que ganharia mais poder seria o PMDB, que levaria mais uma pasta e um ministério com mais dinheiro.

Voltar ao topo