País é o segundo no ranking sobre mortes por armas de fogo

genocidio060505.jpg

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, ontem, com Jorge Werthein.

Brasília – O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) sobre a taxa de mortes por armas de fogo entre 57 países de todo o mundo. Os dados são referentes aos anos de 2000 a 2003, e foram colhidos pela Unesco com base em relatórios enviados pelos países à Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o ranking da Unesco, o Brasil perde apenas para a Venezuela na quantidade de óbitos por armas de fogo. Em 2002, foram quase 22 mortes por armas em cada cem mil habitantes no Brasil. Já na Venezuela, esse número chega a 34 mortes. Em contrapartida, no Japão -último colocado do ranking -menos de uma pessoa morreu no mesmo período em consequência de armas de fogo.

O Brasil perde para países como Israel, que historicamente mantém conflitos com o povo palestino na disputa por territórios no Oriente Médio. Israel ficou em 6.º lugar no ranking, atrás de países como os Estados Unidos, Argentina, México, França e Croácia. Ao contrário do Brasil, em Israel é permitida apenas a posse de armas de fogo, mas sua comercialização é proibida. Para o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, o ranking mostra a necessidade de mudanças no comércio de armas de fogo no País. ?Lamentavelmente o Brasil ocupa o 2.º lugar. Isso mostra a preocupação necessária com a alta taxa de mortes por arma de fogo no Brasil. É muito, em comparação com os 57 países?, ressaltou.

O representante da Unesco apresentou o ranking ao presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), e fez um apelo para a aprovação do decreto legislativo que determina a realização de referendo sobre a comercialização de armas de fogo em outubro deste ano.

O pedido da Unesco sensibilizou o presidente da Câmara. ?Nós precisamos fazer tudo pra savalguardar a sociedade, e a sociedade não pode ficar sendo punida por falta de ação dos legisladores e da própria segurança do País. O referendo vai, e quem vai decidir é o povo. Tem que acabar a obstrução, senão eu não vou poder colocar em votação?, disse Cavalcanti após encontro com Jorge Werthein.

Os 57 países foram selecionados pela Unesco para o ranking por terem sido os únicos, entre os mais de 190 integrantes da Organização Mundial de Saúde (OMS), a enviar com frequência anual dados sobre homicídios e mortes. O ranking exclui os países africanos, e grande parte dos países da asiáticos e do Oriente Médio, como o Iraque. ?O último dado enviado pelo Iraque à OMS foi em 1994, e isso nos impediu a comparação?, disse Jorge Werthein.

Fácil acesso a armas de fogo nas escolas

Brasília – Mais de 200 mil crianças e jovens de cinco capitais brasileiras e do Distrito Federal já tiveram acesso a armas de fogo dentro de escolas públicas e privadas do País. O número alarmante integra pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) sobre o cotidiano de violência nas escolas brasileiras. A pesquisa ouviu, entre o final de 2003 e o início de 2004, alunos, professores, diretores e funcionários de escolas. A Unesco também aplicou mais de 10 mil questionários entre os alunos para analisar a relação entre violência e educação no Brasil. Além dos 200 mil alunos que admitem nos questionários já terem visto armas de fogo dentro de escolas, outros 19 mil revelaram já ter entrado com revólveres nos colégios. ?É incrível verificar a quantidade de armas de fogo que circulam hoje nas escolas brasileiras. São taxas inaceitáveis e pouco vistas em outros contextos. Isso mostra a facilidade com que as crianças e jovens têm acesso às armas, desde as armas de família, e as que são roubadas e depois circulam livremente?, ressaltou o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein. Segundo ele, a preocupação da ONU está relacionada à qualidade da educação em ambientes escolares onde o temor predomina entre os alunos. ?Se as ameaças são constantes, não há professor que possa ensinar bem, que queira ir à escola, e não há aluno que possa aprender bem e concentrar-se na escola quando os níveis de violência são tamanhos.? ?A morte vai diminuir com a diminuição do fácil acesso às armas de fogo?, garantiu Werthein. O relatório referente à pesquisa da Unesco traz dados colhidos em São Paulo (SP), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ) e no Distrito Federal. Entre as armas mais comuns encontradas nas escolas, segundo relato dos próprios alunos, estão canivetes, facas, revólveres e punhais.

Voltar ao topo