Novas denúncias atolam o governo Lula na crise

Waldomiro Diniz, ex-assessor do Palácio do Planalto, teve um encontro com o bicheiro Carlinhos Cachoeira em 2003, quando já estava atuando no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação é da revista “Época”, em nova reportagem sobre a crise, que chegou ontem às bancas.

Brasília – “Aconteceu o que o governo mais temia. O ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República Waldomiro Diniz fez tráfico de influência em 2003, já trabalhando no Palácio do Planalto. Desde a sexta-feira 13, quando Época revelou uma fita de vídeo em que Waldomiro aparece cobrando contribuições de campanha e propina do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o governo vinha revirando seus armários. Tentando evitar surpresas que pudessem enfraquecer a sua defesa, baseada no seguinte argumento: a fita registra um fato ocorrido em 2002, quando Lula ainda não havia sido eleito e Waldomiro atuava como presidente da Loterj, a estatal que cuida das loterias no Rio.

O temor do governo era descobrir alguma ação irregular do ex-assessor quando ele já estava no governo Lula”, diz a reportagem. Segundo a revista, no dia 6 de janeiro de 2003, logo depois da posse do governo Lula e recém-instalado no quarto andar do Palácio do Planalto, Waldomiro voltou a se encontrar com Carlinhos Cachoeira e com dois diretores da empresa Gtech, multinacional que negociava com a Caixa Econômica a renovação de um contrato, no valor de US$ 130 milhões, para operar as loterias da instituição.

Uma outra reportagem, da revista Veja, contribui para afundar ainda mais o governo do PT na crise: a revista traz José Vicente Brizola, ex-diretor-geral da Loteria do Estado do Rio Grande do Sul (Lotergs), afirmando que donos de bingos, videobingos, jogos de cartelas e máquinas de videoloteria contribuíram para financiar a campanha eleitoral do PT no Rio Grande do Sul em 2002. E ele teria sido pressionado por Carlos Fernandes, filho da então candidata à reeleição ao Senado pelo PT Emília Fernandes.

O presidente nacional do PT, José Genoino, saiu em defesa do governo e classificou José Vicente Brizola como um “ressentido”. Além de acusar o ex-diretor de retaliação, dizendo que ele “solicitou cargos no governo federal e não foi atendido”, Genoino diz ainda que Vicente teria enviado diversos e-mails ao PT fazendo ameaças por não ter sido aproveitado no governo federal. “A entrevista é de alguém ressentido, magoado, que fala de pessoas sem nenhuma prova concreta”, disse Genoino. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem ter conversado com a ex-ministra Emília Fernandes sobre a reportagem da Veja.

Lula: “todo mundo é inocente”

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem que nenhum membro do governo será protegido se for culpado de atos ilícitos, mas disse acreditar que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário??. Uma semana após a divulgação da mais grave denúncia contra um assessor palaciano, incrementada ontem por novos ingredientes de tráfico de influência, Lula fez os primeiros comentários sobre o caso, no que pode ser interpretado como uma demonstração de apoio ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

“No Brasil sempre se instituiu a cultura de que todo mundo é culpado até que se prove o contrário. Eu sou formado numa outra cultura??, disse o presidente durante discurso na inauguração de nova linha de montagem da empresa Marcopolo, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.

Mas em seu próprio partido, há a consciência de que a crise é mais profunda que pareceria anteriormente. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) respondeu afirmativamente quando questionado sobre se a situação do caso Waldomiro muda após as novas denúncias, retratadas ontem pela revista Época, de que o ex-assessor do Planalto também participou de reuniões com a multinacional Gtech e com o bicheiro Carlos Cachoeira em 2003, durante o governo Lula.

Suplicy lembrou que, em reunião com parlamentares após as primeiras notícias sobre o escândalo, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, assegurou, ao argumentar que não tinha relação funcional com os episódios que envolveram seu ex-assessor, que a denúncia dizia respeito a fatos ocorridos em 2002, antes de o atual governo tomar posse. O senador disse que confia no ministro, mas defendeu que as denúncias sobre as reuniões de Waldomiro em 2003 sejam “investigadas, apuradas”. Suplicy afirmou ainda que mantém sua opinião de que o chefe da Casa Civil deveria ir ao Congresso prestar esclarecimentos e responder às dúvidas dos parlamentares. O senador reiterou que confia em Dirceu e disse ter “convicção” de que o ministro daria uma explicação “cabal” que seria respeitada.

Oposição: País perdeu o rumo

Brasília – O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), trocou ontem as críticas dirigidas ao governo pelo apelo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que “assuma o controle do País, deixe de escapismos, bote a cabeça no lugar, os pés no chão e pense numa saída efetiva para a crise provocada pelas denúncias contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz”. Virgílio disse que, diante da gravidade da situação, está disposto a dar uma trégua aos governistas e, se for convocado, pronto para colaborar no esforço de impedir que a crise afete a paz institucional do País. Antes, porém, acredita ser “imprescindível” o afastamento do chefe da Casa Civil, José Dirceu, até o fim das investigações, “com ou sem CPI (comissão parlamentar de inquérito)”.

“O ministro deve sair por ele próprio para mostrar a vontade do governo de apurar e de não adotar mais meias-solas e meias-soluções e para provar que ele não vai interagir nas apurações”, alegou. “O que vemos é um governo avestruz, achando que o carnaval e os tamborins vão obscurecer uma crise que ameaça assumir proporções de crise institucional.”

Virgílio foi insistente ao deixar clara a trégua que está disposto a dar ao governo na tentativa de impedir que a inabilidade da administração federal alimente a crise. O líder lembrou que, no Brasil, a história mostra que o fim das crises é sempre imprevisível. “Já vimos outras (crises). O líder disse que até agora, da parte do governo, “só há mentiras e incompetência”, acusou. “O governo tem obrigação de parar com essa paralisia lastimável que está levando à bancarrota os bons resultados da sua equipe econômica e que ameaça de retrocesso tudo o que o governo de Fernando Henrique Cardoso consolidou em oito anos de governo.”

Ele advertiu aos governistas que, “ao contrário do que acreditam, não se cura câncer com mertiolate, câncer cura-se com radioterapia, com quimioterapia e com cirurgia, sobretudo quando está indo para metástase”.

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