Militares envolvidos na morte de jovens começam a depôr no Rio

O delegado Ricardo Dominguez, que investiga o assassinato de três jovens do morro da Providência, no centro do Rio, começou a ouvir na tarde desta terça-feira (17) nove dos 11 militares acusados de terem entregue os jovens para traficantes do morro da Mineira, que pertencem a uma facção rival à que controla a venda de drogas na Providência. Dominguez pretende estabelecer a participação de cada um no episódio. O advogado Rafael Viana, que defende três dos acusados, disse que o delegado já havia decidido indiciar os 11 militares sob a acusação de seqüestro. "Em conversa extraoficial, o delegado confirmou que vai estabelecer a participação de cada um, e que três ou quatro seriam indiciados também sob a acusação de homicídio triplamente qualificado", disse. Até as 18 horas, Dominguez ainda permanecia no 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, zona norte, e não havia confirmado a informação.

Viana defende os sargentos Bruno Eduardo de Fátima e Renato de Oliveira Alves e o soldado Sidney de Oliveira Barros. Segundo ele, os três contaram que chegaram ao quartel do Santo Cristo, na manhã de sábado (14), e foram convocados para fazer a guarda de um caminhão do Exército. No veículo, estavam os três moradores da Providência, detidos por desacato. "O Bruno, que é de Juiz de Fora, ouviu que os rapazes seriam deixados no Sambódromo para que voltassem a pé, como um corretivo. Mas ele percebeu que o caminho tomado foi outro. Ao chegar, percebeu que estava no pé do moro da Mineira".

Ainda segundo o advogado, os militares contaram que desceram do caminhão quando o veículo já estava cercado por traficantes. "Cada um tomou posição para se defender. Um deles ficou atrás de um poste. O Bruno disse que nunca viu tanto civil armado." Segundo a versão dos três militares, eles teriam ficado na base do morro da Mineira, enquanto o tenente Vinicius Ghidetti e o sargento Leandro Maia Bueno negociaram a entrega dos jovens aos traficantes.

O advogado do tenente Ghidetti, João Carlos Rocha, disse que seu cliente havia levado os rapazes ao morro para um corretivo, "mas não imaginava os desdobramentos". O advogado de Bueno não foi localizado. Pela manhã, antes de tomar os depoimentos, o delegado disse que pretendia pedir a quebra dos sigilos telefônicos dos militares que levaram os rapazes para a Mineira. "Vejo indícios fortes de envolvimento dos militares com o tráfico. Eles entraram e saíram do morro com facilidade, sem conflito. Quero saber se houve contato prévio".

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