Mattos implica Gilberto Carvalho ainda mais

Em depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos, condenado pela venda sentenças, implicou ainda mais o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho, no caso Santo André. Mattos acusou ainda o PT de abafar as investigações sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em 2002.

De acordo com o juiz afastado, a voz de Carvalho aparece de forma comprometedora nas fitas gravadas pela polícia durante as investigações do crime. Nas gravações, ouvidas por Mattos, o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, que, na época do homicídio, era secretário de Governo da prefeitura, orienta como algumas das pessoas ligadas ao caso deveriam se comportar. Carvalho vai além. "Pelo que eu me lembro, não existe uma gravação frontal, mas dá a impressão que era ele também que coordenava o esquema da arrecadação", afirmou o juiz.

Mattos afirmou que a voz do então presidente nacional do partido, deputado José Dirceu (SP), não aparece nos registros. Mas o nome de Dirceu é citado várias vezes. "Há entre eles comentários de que precisavam falar com José Dirceu sobre as investigações", relatou. O juiz apontou ainda o papel do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), escalado pela legenda para acompanhar as investigações. "Com o dr. Greenhalgh, falavam do andamento jurídico da apuração e que ele precisava instruir o depoimento dos irmão do prefeito e da Ivone (Ivone Santana, namorada de Daniel)."

Segundo Mattos, sempre ficou patente o esforço de petistas como Carvalho e Greenhalgh para impedir a apuração do assassinato do prefeito de Santo André. O juiz afirmou que as conversas de pessoas ligadas à sigla, grampeadas pela Polícia Federal (PF) entre janeiro e março de 2003, mostram o interesse em "poupar o PT porque a apuração do crime traria problemas, revelaria o esquema de corrupção com as empresas de ônibus e o lixo".

Pelas gravações, afirmou Mattos, dá para perceber que ninguém chorava a morte de Daniel. Mas mostravam o medo que tinham no caso do aprofundamento das apurações. "Não havia lamentos pela morte do prefeito; foi um morto muito pouco querido", afirmou, referindo-se ao que ouviu nas gravações.

O juiz disse que, a certa altura, é o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência quem aparece nas fitas dando parabéns pelo desempenho de Ivone como "viúva sofrida nos programas de tevê". Isso logo depois de ela ter aparecido no programa Hebe, da apresentadora Hebe Camargo, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), e no Jornal da Record, do jornalista Boris Casoy. "Ele (Carvalho) dizia: ?Seu papel de viuvinha foi muito bom", afirmou. "Ele coordenava e repassava o que estava acontecendo para o José Dirceu." Mattos ouviu, segundo ele, de "quatro a dez das 42" fitas com os grampos feitos para as investigações do caso Celso Daniel. Elas foram parar nas mãos dele porque ele era o juiz titular da 4.ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo, que investigava a morte do prefeito.

Acareação hoje decide o futuro de Carvalho

Brasília – O chefe do Gabinete Pessoal, Gilberto Carvalho, será hoje acareado na CPI com os irmãos de Celso Daniel, o médico oftalmologista João Francisco Daniel e o professor universitário Bruno Daniel. Francisco e Bruno Daniel afirmam que, no dia da missa de sétimo dia do prefeito, em janeiro de 2002, ouviram Carvalho afirmar que o crime tinha relação com o esquema de corrupção existente em Santo André para abastecer o caixa dois da agremiação, e que caberia a ele próprio carregar no Corsa preto o dinheiro da extorsão para, em seguida, entregá-lo ao então presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP).

O chefe do Gabinete negou o fato quando depôs na CPI, em sessão sigilosa. A sessão de amanhã será aberta. O vice-líder do PT no senado, senador Tião Viana (AC), disse que na conversa, por telefone, que teve ontem (24) à noite com Carvalho, este lhe assegurou que não tomará nenhuma iniciativa para fechar a sessão do confronto. Parlamentares petistas dizem que o chefe do Gabinete tem uma carta na manga, um fator surpresa para exibir no enfrentamento. Mas não adiantam do que se trata.

Mattos apontou o "desaparecimento" das fitas como o principal motivo da prisão preventiva dele, em outro processo além do que responde na Operação Anaconda, por venda de sentenças judiciais. Mas existem cópias. Na 4.ª Vara mesmo, estão lá as 42 fitas. Todas elas foram requisitadas pela CPI dos Bingos. "Se elas contiveram, realmente, o que disse o juiz, será um passo muito importante para resolvermos a questão de Santo André", disse o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Mattos afirmou que a legalidade das fitas foi questionada, uma vez que foram grampeadas por intermédio de "um desvio de finalidade". Chamou assim o fato de o juiz que autorizou a escuta ter feito um acordo com a Polícia Federal (PF) para "grampear" funcionários públicos municipais de Santo André – como Carvalho, o empresário Sérgio Gomes de Oliveira, conhecido como Sombra, o então secretário de Serviços Municipais e ex-vereador, Klinger Luiz Oliveira, e o empresário com quem mantinham negócios, Ronan Maria Pinto – como envolvidos no tráfico de drogas e não em crime político.

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