Marchas e invasões marcam Abril Vermelho no Pará

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou hoje uma marcha de 500 agricultores até a capital paraense e manifestações de outros 900 na Curva do S, em Eldorado dos Carajás, onde no dia 17 de abril de 1996 foram mortos 19 lavradores pela Polícia Militar, dentro da programação do Abril Vermelho. Na madrugada de hoje, um grupo invadiu uma das áreas pertencentes à Agropecuária Santa Bárbara, empresa do grupo do banqueiro Daniel Dantas. Segundo nota da empresa, um grupo de invasores expulsou das casas do retiro Jandaia, localizado dentro da fazenda Maria Bonita, dezenas de funcionários e suas famílias, ameaçando de morte quem voltar.

A invasão, segundo o MST, foi um protesto contra decisão da Justiça de manter presos 12 integrantes do movimento por porte de armas de fogo e formação de quadrilha. Eles são acusados de assaltar, dez dias atrás, motoristas que trafegavam pela rodovia PA-150. “O que está havendo é uma criminalização dos movimentos sociais que lutam pela realização da reforma agrária”, argumenta o coordenador estadual do MST, Ulisses Manaças. Para ele, a impunidade dos matadores de sem-terra também contribui para o aumento da violência no campo.

Com números levantados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) nas mãos, Manaças observa que 1.493 lavradores foram mortos entre 1985 e 2007, mas somente 71 pistoleiros foram condenados e 49, absolvidos. Outros 19 mandantes de crimes foram condenados, embora nenhum deles esteja na cadeia, segundo o levantamento. De acordo com o líder do MST, isso representa a “consagração da impunidade”. Sobre a morte de 19 sem terra, que nesta sexta-feira completa 13 anos, ele lamenta que ninguém esteja preso.

O movimento planeja fazer manifestação amanhã na porta do Tribunal de Justiça, cobrando a prisão do coronel Mário Pantoja e do major José Maria Oliveira, que, na época da morte dos agricultores, eram comandantes dos batalhões da Polícia Militar de Marabá e Parauapebas. Pantoja foi condenado a 228 anos e Oliveira, a 154. Outros 134 soldados, cabos, sargentos e tenentes foram absolvidos.

Governo Lula

O líder do MST se diz decepcionado com a reforma agrária do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Lula se aproxima do final do segundo mandato, mas só cumpriu 29,6% da meta de assentamentos”, acusa Manaças. O plano do governo federal, segundo ele, estabeleceu o assentamento de 550 mil famílias, porém só conseguiu dar terra para 163 mil. O governo diz que os números do MST estão “equivocados”, mas não informou quantas famílias foram até agora assentadas.

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