Lula intercede para obter vitórias

Brasília – As primeiras vitórias do governo nas reformas, aparentemente fáceis, exigiram a interferência direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no trabalho de coordenação política do governo. A aprovação das reformas tributária e previdenciária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara foi antecedida por tensas reuniões no Palácio do Planalto.

No último dia 15, o presidente da CCJ, Luiz Eduardo Greenhalgh, comandou uma sessão convocada para debater o texto. Inscreveram-se 14 oradores – 13 malharam a proposta e apenas um a defendeu, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). No dia seguinte, uma sexta-feira, o presidente da CCJ foi para uma reunião no Planalto. Greenhalgh tirou do bolso do paletó a lista dos oradores da sessão da CCJ: “Olhem aqui: não temos nenhuma articulação, nenhuma estratégia. Dos 14 oradores inscritos ontem, somente um defendeu o governo. Assim não tem como ganhar nada lá.” Lula apanhou a lista, examinou-a, virou-se para o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e perguntou: “Zé, como está a nossa articulação na CCJ?”. “Olha, presidente, já conversei com os governadores e com o PMDB. Vai dar tudo certo”, respondeu o ministro.

Lula, então, abordou Greenhalgh: “E lá na CCJ, como está?” “Estamos mal. A base aliada não assina presença. Só estamos apanhando. Estamos perdendo a batalha da comunicação”, reclamou do secretário de Comunicação, Luiz Greenhalgh. Lula cobrou de Gushiken: “E a nossa comunicação, hein?”. “Vou mandar fazer umas cartilhas com esclarecimentos sobre a importância das reformas”, respondeu o homem da comunicação do governo.

Dado o sinal de alerta, veio a discussão a respeito da reforma da Previdência. No dia 26, Greenhalgh foi novamente ao Planalto para uma reunião com Lula e levava uma outra lista. Dessa vez, o papel mostrava que em uma nova reunião da CCJ 24 deputados tinham se inscrito para falar – 20 contra a proposta e só 4 a favor. Lula questionou Dirceu: “Cadê a mobilização? Onde estão os governadores? Vocês sabem que essa história de cobrar a contribuição dos servidores inativos não é minha. É dos governadores. Se eles não se mobilizarem, não dá. É preferível retirar a contribuição”. O ministro da Casa Civil informou que no dia seguinte participaria, em Sergipe, de um encontro com os governadores do Nordeste. “Vou para Aracaju resolver isso”, disse. Efetivamente, ele tomou um jatinho e voou para Aracaju na madrugada do dia seguinte.

Na reunião do Planalto, Dirceu queixou-se do texto da reforma tributária a Greenhalgh: “Vocês têm que tirar a parte que envolve os servidores militares, porque decidimos em um acordo que o regime para eles será diferenciado”. “Na CCJ não dá, porque esse assunto não é constitucional. Tem que sair quando for apreciado o mérito. Senão corremos o risco de sofrer uma ação que inviabiliza a reforma”, reagiu o deputado. O trecho da emenda que se refere aos militares acabou mantido na CCJ, mas a vontade de Dirceu será atendida: o item vai ser decepado pela comissão especial encarregada a partir de agora de debater o mérito da reforma.

PT vive conflitos internos

Brasília – Cinco meses após assumir o governo, o PT vive um momento de estresse. Há problemas de convivência do líder do partido no Senado, Tião Viana (AC), com o vice-presidente da Casa, Paulo Paim (PT-RS), e deste com os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Previdência, Ricardo Berzoini.

O presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), vive em conflito permanente com um grupo de petistas que contesta a maioria de suas decisões. A ponto de, na semana passada, ter perdido a paciência, dado um murro na mesa, ligado para o Palácio do Planalto e ameaçado não fazer a convocação extraordinária em julho para a votação das reformas porque não agüenta mais os ataques de Chico Alencar (RJ) e Walter Pinheiro (BA), favoráveis a que não se pague um centavo pelo trabalho adicional. Tido como um dos mais serenos, João Paulo é hoje um poço de impaciência.

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