Lula é o plano B tucano para 2.º turno sem Serra

Brasília – O presidente Fernando Henrique Cardoso espera que o candidato do PSDB, José Serra, reaja nas pesquisas e vá para o segundo turno com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, caso isto não aconteça, o presidente já teria um plano B no bolso. Ele articula apoio a Lula em um eventual segundo turno contra Ciro Gomes (PPS). Os movimentos do presidente já causaram a ira do PFL, cujo presidente, Jorge Bornhausen, acusa Serra de agir como laranja do PT.

Sinais de que o presidente Fernando Henrique Cardoso inclina-se por Lula já foram dados. E o mais importante deles aconteceu na última segunda-feira, quando os quatro candidatos foram a Brasília para se inteirar sobre os termos do acordo firmado com o FMI. O presidente deixou claro na conversa que teve com Lula: se Serra não passar para o segundo turno, vai votar no petista. E mais: prometeu ajudá-lo, liberando apoios tucanos por todo o País. O presidente não vai subir no palanque de Lula, mas poderá até anunciar publicamente seu voto.

Este plano B não significa que o PSDB jogou a toalha em relação a Serra. Significa que os tucanos não querem ficar sem alternativa para o segundo turno, caso Serra não reaja. O tucano tem prazo até 10 de setembro. A última esperança do PSDB é a propaganda eleitoral, que começou terça-feira e onde o candidato entrou agressivo. Muitos fatores levam os tucanos para os braços de Lula. Um deles é o fato de a candidatura Ciro estar respaldada pelo PFL de Antônio Carlos Magalhães e cada vez mais dominada por lideranças reacionárias. Além disso, há maior identidade com Lula – que até fez campanha para FHC ao Senado em 1978. E o presidente e seus assessores mais próximos não perdoam Ciro pelas suas críticas ao governo e ao presidente como chefe de Estado. Há, finalmente, outro motivo: uma idéia começa a germinar nos bastidores, a de editar uma aliança de centro-esquerda com PT e PSDB e PMDB, no caso de vitória de Lula.

Os sinais de aproximação entre tucanos e petistas são cada vez mais frequentes. Além das conversas ao pé do ouvido entre lideranças dos dois partidos, as atitudes e declarações das duas maiores figuras do PT e do PSDB evidenciam a articulação política. Lula, ao mesmo tempo que se esforça em criticar a política do governo para não perder para Ciro a bandeira de oposição, também tem exercitado toda a sua lábia diplomática para não implodir a ponte com os tucanos. A estratégia da campanha petista é mostrar Lula como responsável.

E foi essa a impressão que o petista passou nas duas horas de reunião com banqueiros, na sede da Federação Brasileira dos Bancos, na terça-feira, em São Paulo. Ao lado do presidente da entidade, Gabriel Jorge Ferreira, na entrevista coletiva que concedeu após o encontro, Lula elogiou a atitude do presidente: “FHC agiu corretamente ao convocar os candidatos para uma conversa.”

Um dos integrantes da Febraban que participou das duas reuniões foi taxativo: “Foi a melhor apresentação de Lula até hoje. Ele foi franco, sereno, ouviu as ponderações de todos com interesse e atenção. Demonstrou ser um homem de diálogo.” A reação a Ciro foi oposta. “Eu daria nota 4 para Ciro e 8 para Lula. Ciro é pavio curto. Ele passou uma sensação de instabilidade e imprevisibilidade, o que é muito ruim. Além do mais, não tem a solidez intelectual que pretende passar. Ele apenas tem boa verbalização.” O mercado ainda não deu como enterrada a candidatura Serra. O prazo é mais curto do que o de FHC: 3 de setembro.

Mas petistas ainda temem o plano A

Brasília

– Apesar de Lula e o PT estarem nos planos do presidente Fernando Henrique e mesmo de grande parte do comando tucano, para um segundo turno sem José Serra, os petistas ainda preferem ignorar esta possibilidade por uma questão muito simples: Serra está em campanha e se conseguir ir para o segundo turno, poderá se transformar em dor de cabeça maior que Ciro. Preparados inicialmente para disputar o segundo turno com o candidato do governo, os coordenadores de marketing do petista Luiz Inácio Lula da Silva agora torcem para que o adversário seja Ciro Gomes, da Frente Trabalhista.

A avaliação do publicitário Duda Mendonça é simples: Ciro parou de crescer, sobretudo por causa dos ataques de Serra, e por isso chegaria ao segundo turno em piores condições do que o tucano. “Se Serra chegar ao segundo turno, chegará numa trajetória ascendente. Enquanto Ciro chegaria cansado, apanhando, quase sem fôlego”, diz um dos coordenadores da campanha petista. Essa opinião, no entanto, divide o comando da campanha de Lula. Há quem considere um erro escolher Ciro como adversário com tanta antecedência. Muitos acreditam que somente na próxima semana será possível fazer uma avaliação mais precisa do efeito do horário eleitoral gratuito.

De qualquer forma, a expectativa é de que o bate-boca travado entre Ciro e Serra possa favorecer ainda mais a campanha de Lula. Os mais otimistas não descartam, inclusive, a possibilidade de uma decisão da disputa já no primeiro turno. Entre eles, destaca-se o presidente do PT, deputado federal José Dirceu, que por enquanto só admite essa hipótese em conversas reservadas. “Se continuar essa briga entre Ciro e Serra, acho que Lula pode crescer e não descarto a possibilidade de vitória no primeiro turno. Vivemos hoje o cenário ideal, com Lula navegando em céu de brigadeiro”, diz também o senador José Eduardo Dutra (PT-SE).

Enquanto isso, Serra não pensa em dar trégua a Ciro. O líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA), tomou o lugar de Pimenta da Veiga como principal homem da campanha tucana e liderou a ofensiva para carimbar Ciro com a pecha de mentiroso. Agora, foi o prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, saiu a público para pedir que a infidelidade do ex-governador Tasso Jereissati seja examinada pela Comissão de Ética do partido, porque Tasso disse que não fará campanha para presidente da República no Ceará.

Nos dias que antecederam o começo da propaganda eleitoral na TV, Pimenta convocou uma entrevista para dizer que o programa seria de propostas, sem ataques pessoais. Mas o que se viu na estréia foi um ataque às incoerências do adversário. Integrantes do núcleo de marketing e de estratégia da campanha disseram que a linha será mantida nos programas de Serra na TV e que Pimenta foi voto vencido.

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