Lula dá pistas sobre o ministério

Nos improvisos que incluiu no longo discurso sobre o balanço do primeiro ano de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu, na opinião de políticos presentes à cerimônia, pistas de quem está forte e quem está fraco na equipe ministerial. A reforma poderá ser feita em duas etapas, conforme fontes do Palácio do Planalto. Na primeira, mais pontual, apenas para abrigar dois nomes do PMDB e alguns ajustes na equipe. Na segunda fase, substituindo aqueles que queiram disputar as eleições municipais.

Embora tenha feito questão de apresentar um relatório detalhado das conquistas setoriais do governo, rebatendo a crítica de paralisia do governo, ao fim do discurso o presidente reconheceu que as áreas mais fortes de governo são mesmo a da condução da economia, que conseguiu conter a inflação e construir as bases para a retomada sustentável do crescimento econômico, e a gestão política, lembrando que o governo não foi eleito com maioria parlamentar, mas conseguiu construir a maioria que permitiu a aprovação das reformas da Previdência e tributária. Ao falar das duas áreas, o presidente cobriu de elogios os ministros Antônio Palocci e José Dirceu – apontados como irremovíveis. Chamou à atenção dos presentes a falta de qualquer referência à alguns ministros como Benedita da Silva, da Ação Social, e Roberto Amaral, da Ciência e Tecnologia.

Lula disse que Palocci ?teve a maestria e a competência? para dizer não a pedidos justos ?sem ceder à tentação? de adotar medidas que pudessem colocar em risco o programa de recuperação econômica do País. ?Muitas vezes, dizer não é mais difícil do que dizer sim, e muitas vezes companheiros do PT perguntavam se Palocci não estava errando?, disse Lula, quando invocou a autoridade de presidente ao descartar a existência de ?política de um ministro ou de outro?. ?Não existe política do Palocci, nem do Dirceu, nem do Gushiken, nem do José Alencar, nem do Lula. Existe política de governo?, afirmou o presidente.

Ao fazer elogios a José Dirceu, o presidente afirmou que duvidava que, sem ele na Casa Civil, o governo conseguiria concluir as reformas no Congresso a partir da construção da maioria. ?Não sei de todos os acordos que ele faz no Congresso. Mas sei que quando ele, o Sarney, o João Paulo, o Aldo, o Mercadante e outros líderes na Câmara falam que foi feito o acordo e que aqui vai ser votado, isso acontece. O governo optou pelo caminho do entendimento em lugar de tentar impor a lógica da maioria sobre a minoria. Obtivemos vitórias no campo político com a aprovação das reformas da Previdência e tributária em sete meses porque chamamos ao diálogo todos os governos e lideranças de todos os partidos, inclusive os da oposição?, disse Lula, discorrendo nos elogios a Dirceu.

Três mascates

No seu discurso, o presidente também fez questão de elogiar o que chamou de ?os três mascates? do governo, que são os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, o da Agricultura, Roberto Rodrigues, e o das Relações Exteriores, Celso Amorim. Lula disse que tem confiança ?em soltar os três em qualquer arena do mundo? para negociar em nome do Brasil. A política externa também foi citada de forma bastante elogiosa pelo presidente.

O ministro Ricardo Berzoini, da Previdência, ganhou destaque do presidente quando ele lembrou as primeiras negociações comandadas pelo ministro para elaborar a proposta de reforma da Previdência. Lula lembrou que Berzoini era sindicalista e foi obrigado a negociar com antigos companheiros as mudanças que eram necessárias ao País.

Os ministros Ciro Gomes, Emília Fernandes, Walfrido Mares Guia ?e o dos Esportes?, Agnelo Queiroz, foram citados nominalmente como os que trabalharam para construir a estrutura de seus ministérios. O ministro Gilberto Gil, da Cultura, apareceu no vídeo apresentado antes da fala do presidente ao lado dos ministros Celso Amorim e Luiz Fernando Furlan como os que divulgam o Brasil no exterior.

Promessa de 2004 melhor

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem, em balanço de seu primeiro ano de governo, que o ano de 2004 será muito melhor do que o de 2003. ?Termino este ano infinitamente mais feliz do que comecei. Imaginem minha cabeça na posse. Economistas diziam que o País iria quebrar, os amigos diziam que havia pegado uma batata quente. O tempo de incertezas já passou. Nós construímos os alicerces para que a casa não caia à primeira tempestade. Plantamos muito neste ano e isso começará a dar fruto no próximo ano?, afirmou.

Durante o balanço, Lula mostrou bastante otimismo e citou avanços em todas as áreas do governo. Foi, no entanto, mais enfático ao elogiar o que considera cinco conquistas de sua administração. A aprovação das reformas (tributária e da Previdência) pelo Congresso Nacional, a política econômica, que segundo Lula reverteu ?uma das piores crises da República, a política externa de defesa dos interesses do Brasil, a reforma agrária e o combate a fome?.

Lula afirmou que assumiu o País com uma ?margem de manobra mínima?. ?Muitos acreditavam que o País não resistiria. A inflação beirava o descontrole, o câmbio estava sujeito a especulações e o cenário era o de que o Brasil podia quebrar.? Por isso, segundo ele, o País teve de fazer sacrifícios e tomar decisões amargas com olhos no futuro. O presidente citou a fixação do superávit primário em 4,25% do PIB e a política de juros restritivos à atividade econômica, como exemplo de medidas amargas.

O resultado, disse Lula, é que ?o tempo da incerteza? passou, houve a reversão das expectativas otimistas e a recuperação da confiança. ?Vencemos a primeira batalha e o Brasil pode começar a crescer com segurança.?

Combate à fome

Ao destacar os programas sociais, Lula disse que o Fome Zero já beneficia 1.227 de municípios e 5 milhões de pessoas. O presidente disse que os resultados positivos já começam a aparecer em Guaribas (PI), primeira cidade onde foi implantado o piloto do programa. Segundo Lula, nenhuma criança teria morrido na localidade depois do programa.

Reforma agrária

Na questão agrária, Lula destacou os mais de R$ 5 bilhões que seu governo destinou ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Ele voltou a prometer assentar 530 mil famílias até o final de seu mandato.

Destacou também a mudança do foco da reforma agrária para a reestruturação dos assentamentos já existentes que, segundo ele, não tinham estrutura e condições de produção.

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