IDH avança lentamente e Brasil cai no ranking

Foto: Arquivo/O Estado

Busca da sobrevivência no lixo: retrato da desigualdade.

Relatório das Nações Unidas divulgado ontem mostra que o Brasil caiu de 68.º para 69.º colocado no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia 177 países. A classificação, feita a partir da análise de dados de 2004, revela que o país apresentou uma discreta melhora em seu IDH. Do 0,788 conquistado em 2003 ele passou para 0,792. O avanço, porém, não foi suficiente para garantir a posição do Brasil, agora ocupada pela Bielo-Rússia que cresceu em ritmo mais rápido no último ano.

Com essa classificação, o Brasil continua a integrar o grupo de 83 países de desenvolvimento humano médio. O desempenho foi pior do que Dominica (0,793), Bósnia ou Costa Rica. E bem abaixo da Noruega, pela sexta vez consecutiva primeira colocada no ranking, desta vez com IDH 0,965. O último colocado é Niger, com IDH 0,311.

Os resultados do relatório tornam evidente o longo caminho que terá de ser percorrido para que o projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de transformar o Brasil num país desenvolvido, anunciado logo depois de confirmada sua reeleição, se concretize.

As dificuldades são várias. O relatório do PNUD mostra, por exemplo, que 28 países classificados como subdesenvolvidos exibem um IDH superior ao brasileiro. Treze deles, na América Latina e Caribe. Além de uma lista considerável de países em melhor situação, o Brasil tem crescido nos últimos anos num ritmo mais lento que seus vizinhos, o que torna ainda mais difícil tal corrida. Entre 2000 e 2004, o IDH brasileiro subiu 0,22%. Bem menos que os 0,48% apresentados pela Colômbia, os 0,32% da Venezuela ou os 0,47% do Chile.

O ritmo mais lento de crescimento do país vem acrescido de outro agravante: o relatório de 2006 indica que a melhora do IDH alcançada pelo Brasil no último IDH é impulsionada por um fator atípico: o crescimento do PIB per capita. O IDH é fruto da combinação de quatro fatores: variação do PIB per capita, taxas de adultos alfabetizados, taxas de matrículas e expectativa de vida. As notas conquistadas na área da educação ficaram inalteradas e a expectativa de vida registrou um pequeno aumento de 70,8 anos em 2003 para 70,8 anos em 2004. O PIB, por sua vez, apresentou um crescimento de 3,1%. Essa marca, porém, desvia totalmente do padrão apresentado nos últimos anos. De 1990 a 2004, a média de crescimento foi de 1,2%.

Apesar da melhora no PIB, o Brasil continua sendo um exemplo de desigualdade na distribuição de renda. No ranking, o país apresenta a 10.ª pior colocação de 126 países analisados. Este número é melhor que o do passado. No relatório de 2005, o Brasil era o segundo pior em distribuição de renda na América Latina. Perdia somente para a Guatemala. A melhora registrada nos últimos anos foi citada no relatório como um exemplo de que é possível reduzir a desigualdade. Autores do estudo atribuem a melhora ao aumento do salário e ao programa de transferência renda Bolsa Família.

Mesmo com tal elogio, o país tem pouco do que se orgulhar nesta área. Somente em oito dos 126 países avaliados, os 10% mais ricos detêm uma renda nacional maior que a dos ricos brasileiros. Aqui, a faixa mais privilegiada controla 45,8% da renda. Os pobres brasileiros também estão entre os que menos ganham no mundo. Eles ficam com apenas 0,8% da renda nacional. Ganham mais somente do que pobres da Colômbia, El Salvador, Botsuana, Paraguai, Namíbia, Serra Leoa e Lesoto.

As desigualdades também ficam evidentes ao avaliar os próprios fatores considerados pelo IDH e por outras tabelas feitas pelo PNUD sobre desenvolvimento humano, como a de pobreza humana e de desigualdade entre gêneros.

No ranking de pobreza humana são avaliados somente 102 países em desenvolvimento. Nesta lista, o Brasil ocupa a 22.ª classificação. Quando se avalia isoladamente um dos itens que formam o índice, o risco de morrer antes dos 40 anos, o Brasil despenca para a 95.ª colocação: o risco é de 10,3%. Percentagem maior do que a da Nicarágua e do Suriname (10,1%).

O número de adultos analfabetos também leva o país a ter uma posição ruim no ranking de pobreza: 11,4% dos adultos não sabem ler, o que faz o Brasil ocupar a 58.ª posição. No quesito igualdade de sexos, o desempenho também deixa a desejar. O Brasil ocupa o 55.º lugar, atrás, por exemplo, da Macedônia e das Ilhas Maurício.

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