Hospitais das universidades federais pedem socorro

Os hospitais universitários (HUs) ligados às universidade federais estão pedindo socorro. Com déficits mensais que variam de R$ 300 mil a R$ 2 milhões e dívidas acumuladas que, em alguns casos, chegam a R$ 60 milhões, os 45 HUs estão a caminho da UTI. Quem vai sofrer as maiores conseqüências, no entanto, é a população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nesses hospitais. Alguns já começaram a diminuir o número de atendimentos e a desativar leitos.

Para discutir e tornar pública essa situação, os diretores dos HUs vão se reunir na terça-feira(12) em Brasília. “Na verdade, é um pedido de socorro”, diz Arquimedes Diógenes Ciloni, coordenador do Grupo de Trabalho para Hospitais Universitários da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). “Queremos alertar o governo para a gravidade do problema.”

Ciloni cita o hospital da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), da qual é reitor, como exemplo da crise. “Até maio tínhamos um déficit mensal de R$ 150 mil”, conta. “Com a desvalorização do real, isso pulou para R$ 500 mil. Hoje temos uma dívida de R$ 21 milhões. Se não recebermos mais recursos, teremos de desativar leitos e diminuir serviços. Isso vai atingir a população de baixa renda, atendida pelo SUS.”

Situação semelhante vive o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), que é o único a atender doenças complexas pelo SUS na sua região. Segundo seu diretor geral, Ricardo Castanheira Pimenta Figueiredo, no ano passado a administração conseguiu reduzir a dívida de R$ 5,6 milhões para R$ 1,8 milhão. De lá para cá, no entanto, o problema voltou a se agravar.

Terceirização

Devido à alta do preço de medicamentos e material hospitalar, cotados em dólar, e ao gasto com funcionários terceirizados, o déficit mensal atingiu R$ 500 mil e a dívida acumulada, R$ 4 milhões. “Uma das principais causas é a contratação de terceirizados, sem os quais, no entanto, não podemos funcionar”, explica Figueiredo. É justamente a contratação de terceirizados uma das principais razões da crise. “A rede de 45 HUs têm hoje cerca de 20 mil empregados nessa situação”, explica Amâncio Paulino de Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Hospitais Universitários e Entidades de Ensino (Abrahue). “Em 2001, seus salários consumiram R$ 190 milhões dos 530 milhões recebidos do SUS pelos HUs, ou cerca de 36%.”

Mesmo que os recursos do SUS não fossem gastos em salários, seriam insuficientes para cobrir os custos dos hospitais. “A tabela do SUS está defasada”, explica Carvalho, que também é diretor do HU Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ela cobre apenas de 15% a 40% dos custos reais dos procedimentos médicos e hospitalares.”

O próprio o modelo de financiamento dos HUs ajuda a agravar o problema. Como recebem do SUS por produção, isto é, pelo número de atendimentos, quanto mais pacientes maior o déficit absoluto, pois o que recebem não cobre os custos. Além disso, há um teto para o número de procedimentos. “Quando esse limite é ultrapassado, o SUS simplesmente não paga”, diz Carvalho. “Todo mês nosso HU deixa de receber R$ 50 mil de exames de laboratórios feitos além do teto. Como somos um hospital, não podemos simplesmente deixar de atender.”

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