Governo fez do Brasil um “paraíso financeiro”

Ao lançar a Campanha da Fraternidade 2006, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, disse ontem que o governo Lula não atendeu às expectativas de inclusão social geradas pela sua eleição. Ele defendeu a revisão da política econômica, a redução da taxa de juros e a criação de empregos.

O secretário-geral da CNBB foi direto ao assunto: "A sociedade tinha uma expectativa maior de haver políticas sociais mais eficazes. Sabemos que os governos têm limites, mas não podemos deixar de dizer que a sociedade tinha expectativa de políticas sociais mais eficazes de distribuição de renda e combate à desigualdade e à pobreza", afirmou dom Odilo Pedro Scherer.

Dom Odilo lembrou que o crescimento econômico brasileiro, em 2005, de 2,3% do Protudo Interno Bruto, só foi mais alto do que o do Haiti em toda a América Latina, enquanto os bancos brasileiros registraram lucros recordes. Ele disse que o Brasil é um "paraíso financeiro" e que a política econômica é concentradora de renda. O secretário-geral afirmou ainda que os candidatos a presidente serão cobrados a apresentar suas propostas de geração de empregos e de inclusão social. "A população quer saber o que de fato será feito para gerar trabalho, renda e até para reduzir a sangria de recursos que acabam nas mãos de grupos financeiros", disse o religioso.

Dom Odilo ressalvou que a política de assistência social, em que se destaca o programa Bolsa Família, é positiva, ainda que insuficiente. Segundo ele, o fim dos programas de transferência de renda deixaria uma parcela ainda maior da população em situação de miséria. O secretário-geral enfatizou, no entanto, que o País precisa é de trabalho. "A mais importante política social é a geração de trabalho e renda. A política econômica não está voltada para a inclusão", criticou dom Odilo.

Indagado sobre a agenda de inaugurações e viagens do presidente Lula nesta fase pré-eleitoral, dom Odilo evitou criticar o comportamento do presidente, considerado eleitoreiro por parte da oposição e criticado pela OAB. No entanto, dom Odilo lembrou que Lula governa o País e não pode deixar de fazê-lo. "Lula está no quarto ano de mandato. É para governar e ninguém pode impedi-lo", disse o religioso, acrescentando que o Ministério Público deve fiscalizar para evitar qualquer uso eleitoral da máquina pública.

D. Odilo estima que, em razão das dificuldades encontradas atualmente, a política social será um tema caro para eleitores este ano. "Candidatos serão fortemente cobrados", afirmou. Para o secretário, os eleitores estarão mais atentos: "As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) expuseram as chagas existentes. Todos os brasileiros estarão atentos para as propostas feitas pelos candidatos."

Apesar das advertências feitas semana passada pela CNBB, dom Odilo preferiu não opinar sobre se Lula age como presidente ou candidato.

Em São Paulo, também ontem, as críticas foram reforçadas pelo arcebispo, dom Claudio Hummes. De acordo com dom Odilo Scherer, a realidade do Brasil requer que sejam feitas constantes revisões das políticas sociais do governo: "Se ao longo do caminho percebe-se que existem camadas da sociedade que não estão sendo suficientemente atendidas pelas políticas sociais, então é preciso rever", afirmou.

A 42.ª Campanha da Fraternidade 2006 tem como tema ?Fraternidade e pessoas com deficiência?. A CNBB estima que há no Brasil 25 milhões de deficientes.

Lula acha injustas críticas da CNBB

Brasília (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou ?injustas? as críticas do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), D. Odilo Pedro Scherer. ?As críticas são injustas?, disse Lula, de acordo com um auxiliar. Entre os auxiliares de Lula no Palácio do Planalto, a irritação com a CNBB era maior do que a demonstrada pelo chefe. Ouviam-se pelos corredores do Planalto, por exemplo, assessores que propunham à CNBB cuidar do padre José Pinto, de Salvador, que foi punido pelos superiores por ter feito performances nada convencionais nas missas, nas quais apresentava-se maquiado e vestido com fantasias de baiana, Oxum e índio. Por causa de suas extravagâncias, padre Pinto foi afastado da Igreja da Lapinha, uma das mais tradicionais de Salvador.

Entre as injustiças cometidas pelo secretário da CNBB, estariam, segundo Lula, a afirmação de dom Odilo Scherer, de que o governo não conseguiu garantir empregos e superar a pobreza. Lula acha que seu governo tem o maior programa de distribuição de renda do mundo – o Bolsa Família, que já atende quase 9 milhões de famílias de baixíssima renda.

Outras lembranças que a CNBB não levou em consideração, segundo o auxiliar de Lula: o acesso à universidade pública para estudantes carentes em programas como o ProUni, o aumento das vagas nas escolas de ensino fundamental e médio, o aumento real do salário mínimo no ano passado e neste ano, o crédito consignado, os programas de saneamento urbano e habitacional e as fábricas de cultura estabelecidas em cidades grandes e pequenas.

Lula já reconheceu que deve parte de sua consciência política à Igreja Católica. Mas desde que Lula assumiu o governo integrantes da Igreja e da CNBB têm criticado sua gestão. O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), D. Tomás Balduíno, por exemplo, afirma insistentemente que Lula não cumpriu as metas de reforma agrária. E propõe radicalizar a luta no campo.

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