Genro pede “diálogo político” à oposição

Um dia depois de o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, denunciar ao Supremo Tribunal Federal (STF) toda a antiga cúpula do PT como integrante de uma quadrilha organizada, o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Tarso Genro, bateu nas portas do PFL e do PSDB, os dois maiores partidos de oposição, para propor "um laço de diálogo político".

A oposição, municiada pela acusação do Ministério Público (MP), voltou a falar no impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É um ato de reconhecimento da importância da oposição e também de abertura de um canal permanente de relacionamento", afirmou Genro, ao deixar o gabinete do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), um dos mais severos críticos da administração federal. "Será um diálogo sem concessões de parte a parte, um diálogo político, que vai fortalecer a democracia", disse.

"O ministro propôs um canal permanente de diálogo. É um ato louvável dele, este de nos visitar. Mas não haverá trégua, nenhuma trégua", disse, logo depois de o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República ter virado as costas para se dirigir ao gabinete do líder do PFL na Casa, José Agripino Maia (RN), a cerca de 400 metros dali. "O ministro Tarso Genro é uma pessoa de categoria. Acrescenta equilíbrio ao governo", disse Virgílio.

Com Maia, ocorreu uma conversa muito parecida. De acordo com o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência e o líder do PFL no Senado, a conversação girou em torno do canal permanente de diálogo com a oposição, sem que um lado tente convencer o outro a recuar dos princípios políticos. "É preciso desarmar os espíritos."

Genro, que dirigiu o PT logo depois da queda de toda a direção, agora denunciada por Souza, disse que conversou ainda com os líderes oposicionistas sobre a governabilidade, a edição de uma medida provisória (MP) do Orçamento, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinará, e projetos que se encontram parados no Congresso, como o que cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

O chefe da Secretaria de Relações Institucionais comentou ainda as manifestações sobre o possível pedido de impeachment de Lula. Genro disse que é um direito da oposição. Ele acrescentou, entretanto, que nada há no relatório do procurador-geral da República que atinja o presidente ou mesmo o PT, como legenda. "São indivíduos que estão sendo processados. Eles terão a oportunidade de defender-se. Quem for julgado culpado, que pague." Genro lembrou ainda que a Procuradoria-Geral da República é independente e que foi Lula quem escolheu e nomeou Souza.

Documentos

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa e relator do inquérito que investiga o esquema do chamado "mensalão", revogou o segredo de justiça sob o qual se dava a investigação. Com isso, os documentos que fazem parte da denúncia podem ser consultados por qualquer cidadão interessado, segundo a assessoria de imprensa do STF. Já os documentos protegidos por sigilo bancário, fiscal ou telefônico foram lacrados e poderão ser consultados apenas pelos advogados com procuração das pessoas denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF).

O procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, encaminhou denúncia ao STF no dia 30 de março. Nela, Souza pede que o STF instaure processo contra 40 pessoas, entre ex-ministros, parlamentares e empresários, por envolvimento no esquema do "mensalão". Entre os crimes estão: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva e peculato (desvio de dinheiro público).

Na lista dos acusados estão José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Luiz Gushiken, Silvio Pereira, Marcos Valério de Souza, Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes. Também são acusados de participar do esquema parlamentares como João Paulo Cunha, José Janene, Pedro Henry, José Borba, Professor Luizinho, entre outros, além dos dirigentes do Banco Rural.

As denúncias do MP foram baseadas em investigações iniciadas em 2005 sobre o suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. Cabe agora ao STF julgar se essas denúncias têm procedência ou não.

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