Fórum Social reúne 200 mil pessoas em passeata

forum2270105.jpg

Muitos manifestantes carregavam faixas e cartazes contra o presidente americano e a guerra no Iraque.

Porto Alegre – Uma caminhada que reuniu mais de 200 mil pessoas do centro de Porto Alegre até o anfiteatro do Pôr do Sol, às margens do Rio Guaíba, marcou ontem o início da quinta edição do Fórum Social Mundial (FSM). Com bandeiras, bonecos e batucada, em quatro horas de caminhada, os manifestantes buscaram atrair as atenções para temas como a paz mundial e o fim das desigualdades sociais. Muitos deles carregavam cartazes e faixas contra o presidente americano, George Bush, e a guerra no Iraque.

Um dos convidados mais aguardados para hoje é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula discursará sobre a fome durante a "Chamada Global de Ação contra a Pobreza", uma campanha internacional organizada por cerca de cem entidades para a erradicação da pobreza no mundo. Sob ameaça de vaias por antigos companheiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu se antecipar e desembarcou na noite de ontem na capital gaúcha para uma reunião fechada com o Conselho Internacional do FSM, às 21h. Assim, antes de falar hoje para uma platéia prevista de 15 mil ativistas em um ginásio, o presidente dará explicações sobre seus dois anos de governo aos principais representantes dos movimentos da esquerda mundial. Grupos mais radicais afirmam que pelo menos dois mil manifestantes estão preparados para entrar no evento e vaiar Lula. Os organizadores da "Chamada Global" defendem a redução de subsídios comerciais dos países ricos e o fim das condicionalidades dos organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), para a liberalização das economias pobres; o perdão da dívida externa dos países pobres e o aumento da ajuda humanitária dos países desenvolvidos para erradicar a fome e a pobreza. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também participará do fórum. Entre os temas que devem ser abordados durante os debates do FSM, estão as reivindicações para a regulação do capital financeiro no mundo, o perdão da dívida dos países pobres, a proteção ao meio ambiente e a questão dos alimentos transgênicos. Também estão previstos discursos a favor da paz e contra a política norte-americana.

Bonecos como protesto

Porto Alegre – Oito bonecos gigantes chamaram a atenção de todos os participantes da marcha de abertura do 5.º Fórum Social Mundial, no fim da tarde de ontem. Confeccionados por 30 brasileiros que participaram de uma oficina ministrada por artistas australianos do grupo Snuff Puppets – especializado na confecção de bonecos gigantes inspirados em temáticas sociais – os bonecos representaram temas escolhidos pelos próprios alunos.

O primeiro boneco trouxe uma criança carregando nas costas um adulto para simbolizar a exploração a que são submetidos meninos e meninas de rua no Brasil. Além da interpretação explicitada pela imagem, o boneco também pode simbolizar a exploração sofrida pelos países do Terceiro Mundo frente às nações desenvolvidas. O artista Antônio Lepolski, um dos alunos da oficina, foi escolhido para carregar o boneco dos meninos de rua. Ele demonstrou disposição para levar o boneco, que pesa 12 quilos, distribuídos em cinco metros de altura, durante parte da marcha de abertura. Outros dois bonecos retrataram uma mulher grávida de um mundo mais justo, ao lado de um homem com o mundo na cabeça, simbolizando o nascimento e as idéias que constroem uma sociedade mais justa. "A mulher está grávida de um novo mundo. É o simbolismo de estarmos despidos de tudo o que nos envolve", ressaltou a estudante Fernanda Moreira, que também participou da oficina. Sem preocupação com a estética, os bonecos do grupo Snuff Puppets têm como marca registrada a reflexão sobre temas do cotidiano das sociedades onde as oficinas são ministradas.

Perdão da dívida externa

Porto Alegre – A campanha da "Chamada Global de Ação contra a Pobreza", que surgiu da reunião de quase 100 entidades, defende três linhas de atuação para gerar as mudanças necessárias para erradicar a fome e a pobreza e realizar as Metas do Milênio da ONU. As entidades consideram que existe um descompasso entre o volume de recursos destinados para a ajuda humanitária internacional com a quantidade ainda destinada aos subsídios nos países desenvolvidos. Para a rede, é preciso aumentar a ajuda internacional e não somente reduzir as condicionalidades que os países pobres têm para acessar esses recursos. Um exemplo disso, segundo Adriano Campolina, diretor da Action-Aid e um dos coordenadores da Chamada Global, são as condições econômicas impostas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional para liberalizar as economias em troca da ajuda internacional.

Uma das principais bandeiras é a defesa do perdão da dívida externa dos países. A Chamada Global contra Pobreza considera que, se os recursos para o pagamento das dívidas, fossem revertidos para a implementação de políticas públicas, haveria um avanço significativo na erradicação da pobreza. A campanha da sociedade civil propõe o cancelamento total das "dívidas impagáveis" dos países pobres, por um método justo e transparente. "O que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial cometem é um genocídio contra a humanidade", acusou o prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, ontem em Porto Alegre.

Voltar ao topo