Fiscal que teria sido alvo de Valério se diz ‘chocado’

“Eu nem sabia quem estava por trás desse negócio, eu não tinha nem idéia do que estava acontecendo, estou chocado, Deus me livre”, desabafou Eduardo Fridman, agente fiscal de rendas da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, alvo, segundo a Polícia Federal, de uma farsa montada pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão. Valério foi preso durante a Operação Avalanche, da PF, na sexta-feira (10), acusado de envolvimento em fraudes tributárias, corrupção ativa e formação de quadrilha para extorsão de empresários em débito com o Tesouro. Indiciado no sábado, o empresário nega envolvimento no esquema.

Fridman, de 48 anos, desde 2002 atua como supervisor de Fiscalização da Diretoria Executiva de Administração Tributária (Deat) da Fazenda. Seu trabalho consiste basicamente no planejamento de fiscalização. São três as áreas sob seu crivo: bebidas, alimentos e produtos farmacêuticos.

O embuste contra Fridman e um colega dele, o fiscal Antonio Carlos de Moura Campos, foi descoberto por acaso pela Inteligência da PF e pela Procuradoria da República. A investigação sobre o sumiço de R$ 600 mil que haviam sido apreendidos no Bingo Matarazzo, em São Paulo, levou à identificação de agentes federais envolvidos com Valério, que caiu no grampo da PF supostamente articulando uma trama para desmoralizar Fridman e Moura, que é diretor-adjunto da Deat. “Ele (Moura) é meu superior hierárquico, ingressou na Fazenda em 1983. É um ícone da fiscalização.”

Segundo a PF, Fridman e Moura autuaram a Cervejaria Petrópolis em R$ 104,54 milhões por sonegação de tributos estaduais. A vingança teria sido articulada por Valério, amigo e conselheiro de Walter Faria, presidente da cervejaria que, em 2007, faturou R$ 1,023 bilhão. A Petrópolis nega ter relação de trabalho com Valério.

O operador do mensalão, afirma a PF, contratou dois advogados para fazer o elo com delegados federais para montar um inquérito frio contra os fiscais, para intimidá-los. Antonio Vieira da Silva Hadano e Silvio Salazar, os delegados da PF, foram presos preventivamente, por requerimento do procurador da República Roberto Diana, que foi acatado pela juíza federal Paula Mantovani. Os federais trabalhavam na Delegacia de Santos. A PF suspeita que eles iriam receber R$ 3 milhões pelo inquérito forjado. A Avalanche prendeu 17 envolvidos na trama. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.