Salvador – A perigosa ?guerra de espadas? tradicional comemoração de São João da cidade de Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, deixou 96 feridos até ontem. Mas esse número deve aumentar, pois os ?espadeiros? ainda se enfrentam à noite até amanhã. Em Salvador, o setor de queimados do Hospital Geral do Estado atendeu nove pessoas vítimas de queimaduras entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem.
A tradição da guerra das espadas é secular, que o diga o aposentado José Pereira, de 90 anos, que começou a soltar os fogos em 1920 e ainda continua na prática, demonstrando grande vitalidade. Os ferimentos – queimaduras e fraturas de ossos – são exibidos como ?troféus de coragem.?
O estudante Gelton Costa tentava manter o humor ao dar entrada no hospital da Santa Casa de Misericórdia de Cruz das Almas, na noite de quinta-feira, após uma espada ter lhe atingido o rosto. ?O costume aqui é esse, não posso fazer nada?, balbuciou com dificuldade, com os lábios dilacerados no acidente.
O que torna a espada perigosa é a força que o jato incandescente produz. O fogo de artifício é fabricado com toco de bambu, preenchido com uma mistura de barro, limalha de ferro e pólvora. Quando acesa, atinge velocidade e o impacto numa pessoa pode até matar, como ocorreu no ano passado com dois moradores de Cruz das Almas.
Em Salvador os acidentes mais comuns são a queda em fogueiras e ferimentos provocados por fogos. Um adolescente perdeu a mão na explosão de uma bombinha e permanece internado no setor de queimados do Hospital Geral do Estado junto com outros 38 feridos de acidentes anteriores aos festejos juninos. O local dispõe de 42 leitos para queimados que não devem ser suficientes para a demanda até amanhã.