Estatística minimiza racismo, diz estudo

Brasília (ABr) – A coordenadora do estudo "Retrato das Desigualdades", Vera Soares, alertou ontem que que as desigualdades raciais no País podem ser maiores do que mostram as estatísticas. Isso porque a identificação da cor ou raça nas pesquisas é feita por autodeclaração, ou seja, é o entrevistado quem define a cor da própria pele. "O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) trabalha com cinco categorias que são chamadas de raça/cor: brancos, pret?os, pardos, os amarelos e os indígenas", afirmou ela.

Segundo a pesquisadora, muitos negros e pardos declaram serem brancos e alguns brancos se definem como pardos. De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) do IBGE realizada em 2003, do total de 174 milhões de brasileiros, 52% se declararam brancos, 41,3% se consideraram pardos e apenas 6%, negros. O restante da população se declarou amarela (0,4%) e indígena (0,19%) ou não informou a raça/cor.

O estudo divulgado ontem foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), com base nos dados da PNAD 2003.

Na maior parte dos estudos sobre questões raciais, a população negra é a soma dos pardos e pretos (47,3%). "Para poder trabalhar com os dados, nós unificamos as informações de quem se declara pardo e de quem se declara preto", reconheceu a pesquisadora. "É claro que aqui nós temos dois problemas: tanto quem se declara branco também tem um contingente de pessoas pardas e negras quanto os pardos que tem uma grande variedade porque tem essa gradação da cor. É a gradação da cor que dá o grau de como as pessoas estão excluídas dos seus direitos."

Para a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, o importante dessas pesquisas é dar visibilidade para a questão da desigualdade. "Mesmo sendo uma realidade conhecida isso não significa que com a mesma intensidade todos os organismos de governo, as organizações não-governamentais, as empresas estejam comprometidas com a ação de mudança", apontou.

Matilde Ribeiro disse que o governo está adotando programas para combater a desigualdade racial no País, como o Programa Universidade para Todos e o Programa Trabalho Doméstico Cidadão, lançado na semana passada. Mas a ministra explicou que as mudanças provocadas por essas iniciativas só vão começar a serem percebidas "daqui, no mínimo, cinco anos".

Voltar ao topo