Estatal financiou corrupção, diz Serraglio

A CPMI dos Correios chegou à conclusão de que R$ 10 milhões destinados pelo Banco do Brasil à publicidade da Visanet, empresa da qual o BB tem 33% do capital, foram parar no valerioduto. O relator e o sub-relator da CPI, os deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Eduardo Paes (PSDB-RJ), afirmam ter documentos que comprovam que o BB adiantou os recursos à agência de publicidade DNA, que tinha a conta do Visanet, e que este dinheiro foi depositado inicialmente numa conta da agência no BB.

Dias depois o dinheiro foi transferido para o BMG, e em seguida teria sido repassado por Marcos Valério ao PT em forma de empréstimos. Os recursos se referem à parte destinada ao BB na verba de publicidade da Visanet, e a CPMI concluiu que não há comprovação de prestação de serviço pela agência.

A CPMI diz que uma nota técnica do BB comprova o pagamento antecipado feito pela Visanet à DNA no dia 12 de março de 2004. No dia 15, a DNA aplicou o dinheiro num fundo do BB, transferido no dia 22 para o BMG. Quatro dias depois, o BMG concedeu empréstimo a Rogério Lanza Tolentino e Associados Ltda, no valor de R$ 10 milhões, tendo como garantia o aval de Valério, do próprio Tolentino, e de uma aplicação financeira em nome da DNA no BMG. Esse empréstimo de R$ 10 milhões consta na relação de Valério como sendo dinheiro que a DNA tomou emprestado para o PT, o que comprovaria o desvio do dinheiro adiantado pelo BB.

Segundo a CPI, o BB reconhece o repasse do dinheiro e inclusive já está cobrando da DNA R$ 9 milhões, que teriam sido antecipados à agência em 2004, por serviços não prestados. O comando da CPMI afirma que essa cobrança só aconteceu no dia 25 de outubro deste ano, dez dias atrás. Ou seja, o dinheiro foi liberado para um serviço que na verdade não foi oferecido pela agência de publicidade. Por isso, a CPMI pretende convocar vários dirigentes do BB que assinaram a nota, como Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing, Douglas Macedo, gerente-executivo, Leonardo Batista, gerente de divisão, além do gerente-executivo Cláudio de Castro Vanconcelos, e Fernando Barbosa de Oliveira. "Está comprovado que R$ 10 milhões de dinheiro público foram parar no valerioduto. Isso é dinheiro público colocado na mão de um partido", disse Eduardo Paes.

A CPMI também suspeita de uma operação semelhante envolvendo a Visanet em 2003, mas os integrantes da comissão ainda não conseguiram as provas. Segundo eles, no dia 19 de abril de 2003 a Visanet antecipou, por meio do Banco do Brasil, R$ 23,3 milhões para a DNA em publicidade. No dia seguinte o dinheiro foi aplicado no BB e, cinco dias depois, a SMP&B tomou um empréstimo de R$ 19 milhões no Banco Rural. A CPMI ainda não tem a comprovação de que o dinheiro foi transferido para o Rural, mas afirma que, dias depois, Valério tomou um empréstimo de R$ 19 milhões no Rural, que consta na relação do empresário como emprestado ao PT.

Serraglio afirma que foram verificados vários crimes, como peculato, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e prevaricação e acredita que todos os responsáveis diretos pela operação deverão ser incriminados civil, criminal e administrativamente.

Serviços

A diretoria de Marketing do Banco do Brasil (BB) confirmou ontem à CPMI dos Correios que notificou a agência de publicidade DNA Propaganda que estão pendentes de prestação de serviços R$ 9,095 milhões. Segundo o BB, a agência de publicidade recebeu esses recursos para prestar serviços para a Visanet, mas não fez o trabalho. O relator da CPMI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que os funcionários do banco que tiverem participado da trajetória desse dinheiro deverão ser punidos.

Serraglio disse que cabe à instituição financeira a vigilância sobre essas operações. "Todos que estiveram envolvidos nisso, inclusive o PT", afirmou. Ele disse também que o então diretor de Marketing do BB, Henrique Pizzolato, poderá ser punido e indiciado por peculato. "É crime de quem ajuda a desviar dinheiro público. Outros funcionários também podem estar envolvidos", disse. "Quem nós alcançarmos e que participou desse percurso do dinheiro vai ser punido", disse. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirmou que a operação envolve dinheiro público, da instituição, desviado para o PT. "Está claro que o (ex) tesoureiro do PT (Delúbio Soares) agiu junto com Pizzolato, que operou todo esse esquema. Isso é corrupção e tráfico de influência", declarou.

A Visanet também divulgou nota, ontem, respondendo às denúncias de que teria repassado dinheiro usado no valerioduto. A empresa diz que os pagamentos feitos à DNA, do empresário Marcos Valério, foram efetuados em cumprimento a orientação do Banco do Brasil, que detém 33% das ações da Visanet. 

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