Empresários fecham os seus cofres para políticos

Rio

– Em pelo menos um ponto, os candidatos à sucessão municipal de todos os partidos discursam em uníssono: nunca foi tão difícil convencer empresários a contribuir com a campanha. No Rio de Janeiro, a situação está feia: a 21 dias das eleições, nem mesmo o prefeito Cesar Maia (PFL) conseguiu traduzir em recursos a liderança folgada nas pesquisas de intenção de voto.

A arrecadação, dizem os tesoureiros de Cesar, não passou 30% da estimativa de gastos declarada à Justiça Eleitoral, de R$ 7,3 milhões. E é o melhor desempenho entre os cinco candidatos mais bem colocados. Jandira Feghali (PCdoB) tem o pior resultado: obteve até aqui menos de 10% dos R$ 5 milhões previstos. Jorge Bittar (PT), Luiz Paulo Conde (PMDB) e Marcelo Crivella (PL) estão na faixa de 18% a 20%. “Toda campanha é um parto. Nunca vi sobrar dinheiro”, diz Delúbio Soares, tesoureiro do PT nacional, assediado por petistas de todo o país em busca de recursos.

A cada eleição, as queixas se repetem, mas os custos das campanhas só aumentam. Em junho de 1996, os 14 candidatos a prefeito do Rio, juntos, apresentaram ao Tribunal Regional Eleitoral uma previsão de gastos que somava R$ 16 milhões. Em 2004, os dez concorrentes podem gastar até mais que o dobro disso: R$ 37,4 milhões. No mesmo período, a inflação acumulada foi de 74%.

Para reforçar o caixa, alguns candidatos têm passado pessoalmente o pires em encontros a portas fechadas com empresários. Além de convencê-los a investir em política, têm outro desafio: aplacar a desconfiança. Os empresários temem ter seu negócio vinculado a um determinado político e ter prejuízo numa futura concorrência para obra pública ou constrangimento, caso vençam uma licitação.

Com a experiência de quem conhece os dois lados, o ex-deputado federal e atual presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi/RJ) Márcio Fortes atesta que a campanha nunca foi tão pobre: “Ninguém quer botar a cara na campanha porque fica feio. Lamento, mas é verdade. Há um medo institucional”.

Doações de campanha são assunto quase proibido em alguns comitês. Semana passada, serviram de munição para Jandira Feghali acusar os adversários de falta de transparência depois de ela expor seus financiadores na internet. Marcelo Crivella publicou a lista na rede antes, sem anunciar a decisão. Oficialmente, os partidos só são obrigados a prestar contas ao TRE 30 dias após as eleições.

Voltar ao topo