Duda Mendonça mentiu para a CPMI

Integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios descobriram ontem que o publicitário Duda Mendonça recebeu mais de R$ 11 milhões na conta Dusseldorf, nos Estados Unidos. Foram depositados cerca de R$ 640 mil a mais do que os R$ 10,5 milhões que Duda Mendonça afirmou, em depoimento à CPMI, em agosto, ter recebido do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza como parte do pagamento pela campanha nacional do PT de 2002. Da comissão, três integrantes tiveram acesso ontem, pela primeira vez, aos documentos enviados pela Justiça dos EUA para o Brasil com a quebra do sigilo bancário do publicitário no exterior.

Numa análise preliminar dos documentos, a CPMI também detectou que a conta Dusseldorf foi aberta em fevereiro de 2003, antes da data que Duda Mendonça declarou. No testemunho de agosto, ele disse que a conta foi aberta a pedido de Valério a fim de que fosse possível pagar parte da campanha do partido de 2002. A Dusseldorf foi abastecida por 15 contas de oito bancos. Nos papéis, os membros da CPMI encontraram apenas uma conta de Duda Mendonça, nos EUA: a Dusseldorf. ?Há uma discrepância entre o que o Duda falou e os documentos com a quebra de sigilo da Dusseldorf?, afirmou ontem o relator da CPMI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). ?Existe a forte suspeita de que ele não tenha falado a verdade?, completou. Para o relator-adjunto da CPMI dos Correios, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), não há dúvidas que o publicitário mentiu no depoimento. ?O Duda não falou a verdade. A conta Dusseldorf já existia e o valor que ele deu não é o mesmo que aparece nos documentos. Essas mentiras vão ter de ser desfeitas quando ele vier depor novamente?, disse Paes.

O novo depoimento de Duda Mendonça deverá ser marcado para o dia 15. Apesar dos documentos serem sigilosos, o relatório final da CPMI fará referência à papelada com a quebra de sigilo dele. ?Tudo aquilo que tiver relação com a investigação da CPMI poderá aparecer no relatório?, afirmou o relator-adjunto, Maurício Rands (PT-PE). No dia 10, Serraglio pretende fazer um parecer parcial com a análise dos documentos com a quebra do sigilo de Duda Mendonça.

O relatório será feito em conjunto com técnicos do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, onde estão os documentos. ?O DRCI vai assessorar a CPI e auxiliar no exame dos documentos?, afirmou a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas. A maioria dos documentos foi transferida para meio magnético. O governo brasileiro recebeu oito caixas com cerca de 15 mil documentos em novembro. Além do DRCI, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP) também têm os documentos. A papelada está numa sala do DRCI que tem três câmeras para evitar vazamento de informações – quatro integrantes da CPMI terão acesso aos documentos: o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), além de Rands, Paes e Serraglio.

O relator da CPMI dos Correios confirmou ontem que pretende apresentar o relatório final no dia 21. Serraglio disse ainda que concorda com uma eventual prorrogação da CPMI. ?Se houver um movimento para prorrogar a CPI, eu concordo. Sou um soldado e quero avançar mais. Vão existir coisas que ficarão sem terminar e eu seria um louco se dissesse que tem de concluir logo a CPMI. Mas este é um ano eleitoral e não é aconselhável ter a prorrogação?, observou. Ele citou como exemplo de fatos que não poderão ser aprofundados a análise da conta do publicitário no exterior. ?Não tenho como concluir essa análise em menos de 20 dias. Isso acabará sendo feito pelo Ministério Público e a Polícia Federal?, afirmou.

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