Debate destaca divergências entre Lula e Serra

No último debate da campanha presidencial, realizado ontem à noite pela Rede Globo, tudo foi programado para ter um tom bem comportado, com uma estrutura na qual os candidatos evitariam o confronto direto. Mas durante todo o tempo José Serra (PSDB) tentou provocar o concorrente petista, Luiz Inácio Lula da Silva.  Sempre que possível, o tucano usava seu tempo de resposta para indagar o adversário ou criticar administrações petistas.

Um dos exemplos mais claros foi a insistência dele em arrastar o rival para o debate sobre salário mínimo – o que acabou ocorrendo, no segundo bloco. Quando Lula evitou falar em valores determinados, preferindo afirmar que possui um plano de elevação gradual do salário em quatro anos, Serra disse que as propostas de Lula estão se tornando cada vez mais vagas com a proximidade das eleições. O tucano prometeu aumentar o salário para R$ 300 nos próximos quatro anos.

Lula disse que o seu adversário deveria explicar aos eleitores que a proposta de Orçamento apresentada pela administração atual ao Congresso permitirá reajustar o mínimo para R$ 211 em 2003.

Os dois candidatos, vestidos de maneira semelhante, com terno escuro e gravata vermelha, responderam a perguntas de leitores indecisos, sorteados pela produção do programa, sobre temas como habitação, aposentadoria, planos de saúde, poupança, planos de saúde, combate ao tráfico de drogas e outros. No início, Serra pareceu tranqüilo e menos altivo que em outros debates. O candidato petista também parecia calmo, mas atento às tentativas do tucano de puxá-lo para uma arena própria, além dos limites dos eleitores indecisos.

Lula fez críticas ao Ministério da Saúde, citando especificamente um exemplo na área da saúde da mulher. Disse que aquelas que são encaminhadas no Sistema Único de Saúde (SUS) para exames de mamografia para detectar câncer de mama chegam a esperar sete meses na fila. ?Mas a doença não espera?, disse o petista. Serra não resistiu e saiu em defesa do seu trabalho.  Disse que nunca se instalou tanto mamógrafo no Brasil e nunca se cuidou da saúde da mulher quanto no governo atual. Mas admitiu que ainda falta muito para fazer.

Num determinado momento do debate, o candidato tucano reconheceu que Lula já foi vítima de uma mentira, em 1989, quando concorreu à Presidência com Fernando Collor. Foi diante da pergunta sobre a possibilidade de o candidato vencedor confiscar o dinheiro da poupança numa crise econômica.

Lula respondeu lembrando que já houve na história, ?um irresponsável que bloqueou e confiscou a poupança?, mas que ele jamais faria algo assim. Serra afirmou em seguida que Collor bloqueou a poupança depois de ter dito que Lula faria isso, se eleito. ?Apesar de estar aqui debatendo e de ele ser meu adversário, tenho que reconhecer isso.?

Foi a única troca de gentileza no palco por onde andavam  respondendo aos eleitores. Serra bateu na tecla de que o PT não tem noção da complexidade dos problemas da Nação. Repetidamente, o tucano iniciou as respostas afirmando que o assunto parecia mais complicado do que parecia. Também insistiu no bordão de que ?o importante é fazer e não apenas criticar.?

Em outra parte, quando respondia a uma pergunta sobre formas de combate à criminalidade, Serra atacou as administrações petistas: ?O PT tem uma experiência concreta com isso no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde vê que é mais difícil governar do que comentar.?

Programas

Um dos vários duelos que os dois candidatos travaram em torno de números foi sobre planos sociais. De acordo com Lula, os programas sociais do governo hoje custam R$ 3,7 bilhões, o que ele considera pouco. ?Neste governo confunde-se plano social com esmola?, afirmou o petista.

Serra retrucou, afirmando que Lula estava deixando fora de sua conta alguns programas mais abrangentes, como a aposentadoria rural e o seguro-desemprego, que ele ajudou a criar na época de Constituinte. ?No conjunto, são R$ 28 bilhões?, disse o tucano. Ao que Lula retrucou: ?A aposentadoria rural é um direito, aprovado na Constituição, não um favor.?

O apresentador William Bonner também fez perguntas aos dois. Uma delas foi sobre como combater o crime em uma favela com 200 mil pessoas. Os candidatos concordaram que não bastam ações diretas contra o crime, é necessário fazer prevenção.

Bonner também perguntou aos candidatos como pretendem conciliar as reclamações dos donos das empresas de planos de saúde, que dizem estar tendo prejuízos, e os clientes desses planos, que criticam o valor elevado das mensalidades.  Serra respondeu que na época em que esteve no Ministério da Saúde foi instituído, pela primeira vez, um sistema de controle dos planos  para evitar abusos.

Para Lula todos os planos são caros demais. ?Os donos dos planos não têm razão de reclamar?, afirmou. O petista também defendeu melhorias no SUS. ?O sistema precisa funcionar com total qualidade, para atender toda a população, especialmente a parte mais pobre.?

A platéia escalada para o debate agiu conforme o script e não se manifestou nas respostas dos candidatos. A maioria dos eleitores indecisos leu as suas perguntas.

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