Cúpula petista conta com apoio das “esquerdas” do partido

A cúpula nacional do PT aposta na colaboração de parte das “esquerdas” do partido e no isolamento da ala mais radical que promete fazer barulho em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, por causa das posições mais moderadas adotadas pelo presidenciável. Em nome da governabilidade, assim como serão feitos convites aos partidos aliados, não está descartada a nomeação de um ministro que integre as correntes mais radicais do PT.

“Se o governo quer fazer aliança com outros setores, não vai deixar de fazer alianças no próprio partido”, diz um dos dirigentes nacionais do PT ligados a Lula. Segundo ele, é natural que “quadros competentes” da esquerda petista façam parte do primeiro escalão, embora áreas estratégicas tendam a ficar nas mãos dos moderados.

Oficialmente, a direção nacional do PT diz que Lula não admite a hipótese de loteamento de cargos entre correntes, e que o critério adotado para a composição do Ministério será o da “capacidade, representatividade e competência”. “Vamos montar uma seleção brasileira se Lula ganhar. Serão chamados os melhores quadros, venham de onde vierem”, afirma o secretário de organização do PT, Sílvio Pereira.

Na prática, esse critério não exclui integrantes das correntes mais de esquerda. A Democracia Socialista tem vários líderes com experiência administrativa, como o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, e o deputado Walter Pinheiro (BA), principal especialista do partido em telecomunicações. O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, ex-companheiro de Lula na corrente Articulação e hoje alinhado mais à esquerda, também é cotado para um cargo. Seria uma forma de Lula atrair um velho companheiro dos tempos de fundação do PT.

“É óbvio que Lula vai tentar contemplar o máximo de setores do partido”, diz um deputado que participa do comando da campanha.

 Essa estratégia, acredita ele, permitirá a Lula comprometer o conjunto do PT com a estabilidade de seu governo, amenizando os efeitos das divergências internas que devem aflorar após as eleições, como o debate sobre o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Se Lula mantiver essa estrutura, seu governo não vai fazer outra coisa que não seja arrochar despesas”, afirma Raul Pont, referindo-se às metas de superávit primário negociadas com o FMI.

Enquadrar

Assim pensa a maior parte da esquerda petista, mas todos resolveram dar uma trégua até o dia 27. Na semana passada, após divulgação de reunião de um grupo das esquerdas que repercutiu mal na cúpula do PT, os radicais adotaram o discurso de unidade pela vitória. “Estamos preocupados agora em garantir a vitória de Lula”, diz o deputado eleito Lindberg Farias (RJ), ex-presidente da UNE e ex-integrante do PSTU. “O governo Lula é um governo que estará em disputa, assim como o atual. Vou tentar puxá-lo mais à esquerda, mas o compromisso maior é com a governabilidade”, afirma o deputado Luciano Zica (SP), da corrente Articulação de Esquerda.

Entre os 91 deputados federais eleitos pelo PT, 26 integram correntes de esquerda, mas a cúpula do partido acredita que não terá problemas para enquadrar a maioria. “As diferenças que houver na bancada vão se esgotar na bancada”, diz o atual líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).

Segundo ele, os casos de “infidelidade” às posições aprovadas na bancada são raros e não justificam maior preocupação. Na atual legislatura, três projetos dividiram os deputados petistas: acordo sobre os expurgos do FGTS, prorrogação da CPMF e abertura das empresas de comunicação ao capital estrangeiro. Se Lula vencer, devem surgir polêmicas mais espinhosas. Parte da esquerda não assimilou o novo discurso do PT e tentará pressionar, por exemplo, o futuro presidente a renegociar o acordo com o FMI.

“Lula sabe que há imensa expectativa com sua vitória e que não pode decepcionar o País”, diz o deputado Nelson Pelegrino (BA), da corrente Força Socialista. “Temos esperança de que o governo Lula comece a mudar o destino do País, respeitando o tempo”, completa a deputada Luci Choinacki (SC), ligada ao Movimento dos Sem-Terra (MST).

Para o sociólogo Emir Sader, por ora há colaboração da maioria, e o presidente do PT, José Dirceu, se fortaleceu, “o que muda a correlação de forças interna”. O “lulismo”, representado por setores do PT mais ligados a Lula, diz ele, terá um núcleo dominante no governo, necessário para negociar com outros partidos.

Voltar ao topo