CPI pretende indiciar advogada do PCC por assassinato de juiz

Foto: Diógenes Santos/Agência Brasil

Ariane dos Anjos: visitas íntimas para atender chefes do crime.

A advogada Ariane dos Anjos, que defende importantes integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), assinou, em outubro passado, uma declaração falsa de que mantinha relacionamento estável com um preso para ter acesso como visitante, e não como profissional, à Penitenciária de Presidente Bernardes. Na época, estava detido no mesmo presídio o chefe do PCC, Marcos Camacho, cliente de Ariane. Para os deputados da CPI do Tráfico de Armas, a advogada tentou, com o documento falso, ter contato mais fácil e direto com os integrantes do PCC.

Ariane foi ouvida ontem durante três horas pela CPI. A advogada é investigada por colaboração com a facção criminosa e por co-participação no assassinato do juiz corregedor de Presidente Prudente, Antônio Machado José Dias, em março de 2003. Sobre 111 telefonemas trocados com Priscila Maria Santos, que foi operadora de uma central telefônica do PCC, entre o início de janeiro e o fim de março daquele ano, inclusive na véspera e no dia da morte do juiz, Ariane disse não lembrar os motivos das ligações. ?Ela foi minha cliente durante muito tempo. Eu ligava para falar com ela?, alegou. Somente entre os dias 3 de janeiro e 14 de março foram 84 ligações.

Indagada sobre a conversa de mais de cinco minutos que teve com Priscila, às 23h30 da véspera do assassinato, Ariane disse não lembrar o assunto. Sobre a ligação feita no dia seguinte, às 18h31, com duração de oito segundos, ela respondeu: ?Será que eu atendi? Pode ter caído na caixa postal.? Os deputados da CPI estão certos de que o rápido telefonema foi dado para avisar sobre a execução do juiz, já que o crime ocorreu por volta das 18h30.

Segundo deputados, alguns presos ouvidos na CPI já tinham apontado Ariane como participante do crime. Eles disseram que a advogada teve o papel de repassar a ordem do assassinato, que teria partido de Marcola, para outros criminosos e ter serviço como pombo-correio para o planejamento do assassinato. Ariane negou qualquer envolvimento.

Falsidade

No depoimento, a advogada reconheceu ser falsa a informação de que vivia maritalmente há mais de dois anos com o preso, Donizete Antônio de Oliveira, anexada ao pedido de autorização para visitas íntimas ao detento. Afirmou que, na verdade, tinha tido um relacionamento amoroso com Donizete durante ?dois ou três meses?, em 2003, e que tentou a autorização porque o detento tinha pedido para vê-la.

Ariane disse, no entanto, ter se arrependido e desistido do pedido. ?Em menos de quinze dias eu pedi a documentação de volta (à direção do presídio). Ele insistia (no pedido de encontrá-la) e resolvi mandar a documentação. Mas vi que não tinha por que fazer isso?, disse Ariane, que reconheceu: ?Acho que fui meio burra.?

O relator da CPI, Paulo Pimenta (PT-RS), reiterou a decisão de pedir, no relatório final da CPI, o indiciamento de Ariane por participação no assassinato do juiz corregedor de Presidente Prudente. ?Concluímos que a senhora estabeleceu uma relação com a central telefônica do PCC e que na noite anterior teve um contato com a central. Temos fortes indícios que revelam sua participação no episódio do juiz corregedor?, disse o relator à advogada. 

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