CNBB pede que Lula não use cargo com fins eleitorais

Brasília (AE) – O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Majella Agnelo, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter cuidado para não usar a “força” de seu cargo para “carrear votos” para seus candidatos nas eleições municipais.

“Eu penso que aqueles que têm uma autoridade grande como a dele deveriam se abster totalmente para não influir na votação”, disse. Foi uma referência à decisão de Lula de pedir votos para a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), na inauguração da extensão da Radial Leste.

“Ninguém pode se prevalecer da sua posição para, com todo peso, colocar-se a favor desse ou daquele candidato”, afirmou dom Geraldo, após a divulgação de um documento da CNBB que pede que a disputa eleitoral transcorra dentro da legalidade. “Mas não quero dizer com isso que ele cometeu uma falta grave, mas (a participação do presidente na campanha) é sempre uma maneira que pode ser muito usada para favorecer aquele candidato”, declarou dom Geraldo Majella.

Para o presidente da CNBB, todos os políticos que ocupam uma posição no Executivo não podem usar a “força” da máquina estatal para favorecer seus candidatos. “Quem tem uma posição no Executivo, como o presidente, deve ter esse cuidado, mesmo que ele, pessoalmente, vá votar naquele ou naquela candidata”, afirmou.

Cautela

Em tom cauteloso, dom Geraldo Majella aconselhou Lula a fazer um “exame de consciência” para ver se cometeu um erro ao envolver-se diretamente na campanha em São Paulo. “A gente fala de pecado venial (perdoável) para a pessoa que tem consciência. Então, que ele faça um bom exame de consciência e busque, se estiver errado, se corrigir”, disse Majella. O presidente da CNBB se referiu à declaração do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que considerou que o presidente cometeu um “pecado venial” ao pedir votos para Marta Suplicy na inauguração da obra da Radial Leste.

Para dom Geraldo, estão sendo cometidos “vários pecados veniais” na eleição. “Certamente há muitos (pecados veniais). Basta dizer que mesmo com esta lei contra a corrupção há, em vários estados, candidatos com processos e acusação de serem mandantes de crimes. Por que não ficam fora do concurso eleitoral? Muitas vezes são pessoas bastante conhecidas, mas que têm prestígio e força para intervir direta ou indiretamente na eleição”.

O presidente e o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer, também criticaram os candidatos que “misturam religião com eleição”. Para Scherer, a CNNB não pede votos para este ou aquele candidato, porque considera errada essa prática. Dom Geraldo, afirmou ainda que o Congresso deveria voltar a discutir a reforma política e outros projetos importantes. Segundo ele, muitas das discussões no Congresso se “arrastam” há tempo. “Não sei se o tempo dedicado no Congresso é usado plenamente para atender a esses projetos de lei.”

No documento da CNBB divulgado hoje, a entidade se manifesta sobre a necessidade de uma eleição que “transcorra com lisura e de forma pacífica”. A CNBB pede que os eleitores, os candidatos e a Justiça Eleitoral trabalhem para que seja “combatido o vício da corrupção e do clientelismo”. Para a CNNB, está nas “mãos dos eleitores sancionar as boas propostas e negar o apoio às que não obedeçam a critérios de justiça e de solidariedade”. A entidade pede ainda que os eleitores denunciem às autoridades judiciais a prática de irregularidades na eleição em especial a compra de votos. O documento da CNNB é resultado da reunião do Conselho Episcopal de Pastoral (Consep), realizada na sede da entidade em Brasília.

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