Cerimônia vira ato pró-Lula

Puerto Maldonado, Peru (AE) – A cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Rodovia Interoceânica em Puerto Maldonado, no Peru, transformou-se ontem num ato de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?A você, Lula, digo: coragem! Não tenha medo das pedras no caminho?, disse o presidente do Peru, Alejandro Toledo. PT e PC do B mandaram para a cidade 600 militantes em ônibus contratados pelos dois partidos. A claque aplaudiu Lula a toda hora.

Em seu discurso, Toledo fez referência à obra literária de Miguel de Cervantes. Assumindo o papel do cavaleiro dom Quixote, deu a Lula o do escudeiro Sancho Pança: ?Eles ladram, Sancho, porque estamos construindo carreteras (rodovias)?. Toledo, que está com a popularidade em baixa segundo as pesquisas de opinião, tentou animar ainda seu colega presidente da Bolívia, Eduardo Rodrigues: ?Nossos países estão cheios de esperanças e de crises. Rogo a Deus que na Bolívia prevaleça a democracia?.

O presidente do Peru explicou depois por que disse para Lula ter coragem: ?Porque nos momentos difíceis, e sei o que são os momentos difíceis, há que ter coragem para superá-los e eu sei que ele tem. É um homem de luta, como eu, temos histórias de vida similares, confrontando problemas da América Latina difíceis e é uma palavra de alento de um amigo, colega e sócio.?

Toledo disse que confia numa saída para a crise brasileira. ?Sei que o presidente Lula vai sair (da crise), que os irmãos brasileiros vão entender que produzir mudanças, incluir os pobres e as minorias, que integrar o País e respeitar as diversidades culturais é uma tarefa difícil. Trabalhar pelos pobres mesmo sabendo que não se vê resultados em curto prazo é difícil.?

Crise

O presidente Lula não se referiu à crise política brasileira em seu discurso em Puerto Maldonado, na cerimônia de início das obras de construção da Rodovia Interoeceânica. Ao contrário do presidente do Peru, Alejandro Toledo, que usou seu pronunciamento para falar de lutas políticas, o presidente do Brasil preferiu falar da obra como ponto de partida para a integração latino-americana.

?Presidente Toledo, meu irmão. Talvez não estejamos mais vivos quando esta obra for concluída. Mas a História vai registrar que ela começou aqui, neste dia.? Lula disse que a Interoceânica, que ligará o Brasil, pelo Acre, a três portos do sul do Peru, numa extensão total superior a 2.560 quilômetros, é uma forma de levar justiça social à população de áreas até agora esquecidas, tanto no Peru quanto no Brasil e na Bolívia.

?Essa obra é de grande interesse para o Brasil, para o Peru e para a Bolívia, porque representa o início de fato da integração de áreas longínquas, sempre esquecidas pelos governantes.? Para Lula, a rodovia será muito importante para os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso, no Brasil, para a Amazônia peruana e Cusco, no Peru, e para o oeste boliviano.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai emprestar U$ 700 milhões dos U$ 891 milhões previstos para a obra. Quatro empresas brasileiras foram contratadas: Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Correa. Como faltam licenças ambientais para diversos trechos, principalmente na Amazônia e nos Andes, o Congresso do Peru tem feito ameaça de paralisar as obras.

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