Burocracia não libera as doações do Fome Zero

Rio

– O assessor especial da Presidência da República, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, informou ontem que nenhuma doação em dinheiro feita ao projeto Fome Zero chegou aos beneficiários porque “a burocracia” atrasou a abertura de contas bancárias. As colaborações, segundo ele, serão depositadas em duas contas a serem abertas em abril.

Frei Betto defendeu que alimentos doados em grandes quantidades ao programa de combate à fome sejam vendidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o dinheiro transferido às famílias pobres. O jornal “O Estado de S.Paulo” denunciou ontem que as doações em dinheiro e em alimentos não chegaram a nenhuma família até agora. “Se um atacadista de Santa Catarina doar 200 quilos de trigo, por exemplo, o custo do transporte é impensável. Seria melhor a Conab vender isso, hoje se fazem leilões pela internet, e transferir em dinheiro os R$ 50 para as famílias”, disse Frei Betto, referindo-se ao valor da transferência mensal do Fome Zero.

O frade dominicano e escritor disse que não se aflige com as pendências do programa: “O governo e o Mesa (Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar) têm uma postura ?zen? em relação a esse tipo de pressão porque a responsabilidade é muito grande.” Para as colaborações em dinheiro, haverá uma conta no Banco do Brasil e outra na Caixa Econômica Federal. Também será criado um serviço para dar informações por telefone. Uma campanha no rádio e na televisão anunciará os números das contas e dos telefones.

“Todo governo padece com a burocracia. Temos que rastrear todas as implicações que estas contas podem ter, porque tem que ter transparência total e não transparência zero”, brincou Frei Betto, dizendo que as empresas de auditoria poderão colaborar fazendo o controle das contas. Até agora, doações como a da modelo Gisele Bündchen, que fez um cheque de R$ 50 mil e chegou a posar para fotos com o ministro José Graziano, foram apenas simbólicas. “O cheque continua com a equipe dela”, disse Frei Betto.

Ele considerou as doações uma parte menos importante do problema. “O que o Fome Zero menos quer é distribuir alimentos para quem tem fome. O carro-chefe é a inclusão social. Não queremos deixar famílias dependentes da mendicância alimentar”, disse. Para pequenas e médias doações, a orientação é que sejam feitas a instituições do município do doador.

Frei Betto reuniu-se com representante do Comitê de Entidades no Combate à Fome e Pela Vida, para discutir o fortalecimento dos programas de captação de água, chamado Sede Zero. O governo federal pretende estimular a construção de cisternas de 43 mil cisternas este ano, na região do semi-árido, ao custo de R$ 1.300 cada. Até dezembro, o Fome Zero deverá estar em mil municípios e atendendo 2 milhões de famílias.

Voltar ao topo