Biblioteca Nacional abre mostra com obras “censuradas”

Três mil pessoas freqüentam a Biblioteca Nacional todo mês, mas pouquíssimas são as que conhecem seu “Inferno”. É lá que ficam guardadas as obras consideradas malditas, que, em algum momento da história brasileira, por questões políticas ou morais, foram alvo de censura. Desses arquivos saíram folhetos e livros em português e em línguas estrangeiras, do século 16 ao 20, que compõem a pequena, porém bem interessante exposição Obras Raras e Homoerotismo – Tesouros Bibliográficos Sobre o Prazer Entre Iguais, aberta ao público até o dia 22.

O ponto de partida é uma bíblia francesa de 1850 que pertenceu à princesa Isabel. A proibição do amor entre homens aparece destacada: “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é uma abominação.” Num livro em espanhol de 1597, vê-se o termo “molícies” (ou molícia), a masturbação entre iguais, vetada, então, por uma lei portuguesa.

Numa publicação francesa de 1577 que ensina a desenhar, modelos masculinos aparecem em poses femininas; noutra, de 1828, voltada à educação “psico-moral” de meninos, alerta que não se deve açoitar garotos nas nádegas, uma vez que a prática pode estimular “costumes funestos” (ou seja, por apanhar, eles poderiam ser induzidos a relações homossexuais); em fascículos do Novo Correio de Modas: jornal do mundo elegante consagrado às famílias brasileiras, vêem-se imagens de homens jovens de braços dados, com posturas de moça, sobrancelhas depiladas e gravatas cor-de-rosa.

Estão em exibição 21 obras, selecionadas por Ana Virgínia Pinheiro, chefe da Divisão de Obras Raras, e sua equipe. Ao longo dos anos, elas foram “escondidas” na seção pelos bibliotecários, que, dessa forma, as protegeram da destruição. Assim aconteceu com Mein Kampf (Minha Luta), escrito por Adolf Hitler em 1923, e com livros sobre comunismo, por exemplo. “São obras que, a princípio, não deveriam estar na seção de Obras Raras. O fato de estarem lá revela que a biblioteconomia trabalha com isenção, e preza a salvaguarda da memória”, diz Ana Virgínia, que já recebeu de visitantes-pesquisadores dicas de outros livros com questões afins. A exposição foi aberta no dia 28 de junho, Dia do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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