Advogado de Dantas diz que banqueiro ‘quer desabafar’

O advogado do sócio-fundador do Grupo Opportunity, Daniel Dantas Nélio Machado, afirmou nesta quarta-feira (06) que seu cliente “quer desabafar um pouco”, mas acredita que ele deverá exercer o direito de permanecer em silêncio no interrogatório marcado para amanhã na 6ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo. “Ele quer botar para fora tudo o que ele passou, tudo o que ele padeceu”, disse Machado, acrescentando, entretanto, que a decisão sobre a estratégia a ser adotada no interrogatório só será tomada amanhã defendendo uma “postura racional e não emocional”.

O advogado de Dantas destacou a disposição de seu cliente em esclarecer o caso. “Depois de o processo todo ordenado, a prova toda apresentada, aí sim, ponto por ponto, todas as dúvidas serão dirimidas e a acusação será reduzida ao vazio que ela realmente representa”, prometeu.

Machado falou com a imprensa após assistir ao interrogatório de Humberto José da Rocha Braz, assessor de Dantas, na mesma Vara, e voltou a criticar o juiz Fausto Martins De Sanctis, o Ministério Público e o processo legal. “Do ponto de vista das garantias básicas da Constituição Federal, essa ação penal foi muito precipitada. Essa audiência foi mais precipitada ainda e eu vou fazer uma reflexão de hoje para amanhã. É possível que meu cliente exerça o direito de não falar, mas, por outro lado, ele tem também uma certa angústia existencial compreensível de deixar claro que na realidade ele é vítima de uma armação”, atacou.

Segundo ele, a eventual armação contra Dantas “tem cerca de cinco anos e envolve a questão da (privatização) telefonia (no País). E a oportunidade de esclarecer isso seria conveniente para a defesa”. Questionado se essa “armação” viria do governo, o advogado de Dantas respondeu: “Eu não diria do governo, eu diria que houve segmentos do poder que efetivamente tiveram uma participação decisiva nesta problemática, nessa disputa privada, que assumiu efetivamente uma conotação tal que houve efetivamente alguma interferência do poder público”. E acrescentou: “Basta ver os nomes daqueles que estavam vinculados aos interesses dos fundos de pensão, daqueles que quiseram romper o contrato das pessoas da Telecom Itália, da apuração italiana sobre a qual até hoje eu não consigo entender porque o Ministério Público brasileiro não se interessa em ver o que consta dessa apuração italiana”.

Machado informou que entrou com pedido de adiamento do interrogatório de amanhã, mas que esse pedido foi negado pelo juiz. E voltou a criticar o juiz Fausto Martins De Sanctis, atacando-o de suspeição. A argumentação da defesa de Dantas se baseia no fato de o áudio da gravação do encontro do lobista Hugo Chicaroni, de Humberto José da Rocha Braz e do delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues Alves Pereira, quando teria havido uma suposta proposta de suborno ao delegado para retirar o nome do banqueiro e de seus familiares das investigações da Operação Satiagraha, estaria inaudível. O advogado pede, portanto, uma transcrição dessas fitas. A defesa de Dantas declarou que ele “não tem absolutamente nada a ver com esse episódio que ensejou essa ação penal. Reafirmo sua absoluta inocência”.

‘Rigor desmedido’

Segundo o advogado do sócio-fundador do Grupo Opportunity, o juiz lhe concedeu um prazo de cinco dias para apontar as supostas falhas nos laudos. Em sua visão, o fato de o juiz De Sanctis ter indeferido seu pedido de adiamento do interrogatório de Dantas reafirma tudo aquilo que ele tem dito a seu respeito. Ele informou ainda que recorreu da decisão do juiz de não se reconhecer sob suspeição no caso. “A maior parte dos juízes, numa situação dessas, suspende o processo e aguarda que o tribunal julgue, mas ele optou por dar seguimento ao processo”, criticou Machado. Ele acrescentou também que, no caso de o Tribunal Regional Federal (TRF) aceitar seu pedido e considerar o juiz sob suspeição, o processo todo pode vir a ser anulado.

Nélio Machado ironizou ainda o “rigor desmedido” do Ministério Público. “A aparência que eu tenho de tudo é que já houve um prejulgamento. O que eu quero é o seguinte: se meu cliente tiver alguma culpa, que a demonstre através do devido processo legal. O que eu não posso aceitar é que já se tenha o meu cliente como culpado e que exista parcialidade e facciosismo”, atacou.

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