Brasil na defensiva

No esterior sustenta-se que o Brasil está numa posição de defensiva na luta contra o aquecimento global causado pela derrubada ou queima das florestas e pelo aumento do dióxido de carbono na atmosfera. Esse aumento se dá em grande parte pela industrialização sem cuidados com o meio ambiente e pelo aumento da frota de veículos no mundo, usando combustíveis poluentes. A Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (OUE), proposta pelo presidente francês Jacques Chirac no início de fevereiro em Paris, não teria despertado entusiasmo em Brasília, segundo o influente Le Monde. Lula lançou – e isso é assinalado pelo jornal – uma campanha para exigir dos países ricos que eles diminuam a poluição que causam no planeta.

A argumentação brasileira é bem esclarecida pelo presidente Lula: ?Os países ricos são astuciosos; eles criam normas contra o desmatamento, após terem destruído as suas próprias florestas?.

Estudos da Embrapa demonstram que a Europa conservou apenas 0,3% das florestas que existiam há oito mil anos em seu território. O Brasil conservou um número infinitamente maior: 69%. Isso nos dá, segundo o presidente, ?uma autoridade moral e política? para obrigar as nações desenvolvidas a não ficarem apenas na assinatura de protocolos, mas agirem contra o aquecimento global. Tal está sendo conseguido diante dos fatos e não dos argumentos. Os fatos são aterradores e revelam que o mundo caminha para um superaquecimento e a humanidade para a destruição de sua morada. E isso poderá começar a ocorrer ainda durante a atual geração. Não é por nada que a Comunidade Econômica Européia já promete substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis e controle mais rigoroso da poluição atmosférica, e George Bush veio ao Brasil desejoso de desmontar o prestígio crescente de Hugo Chávez, mas aqui dedicou-se ao debate de uma colaboração entre o seu e o nosso País no campo da produção de álcool combustível.

Para o sociólogo Sérgio Abranches, especialista em ecologia política, ?o Brasil parece estar na defensiva, como se ele estivesse antecipando pressões futuras?. Brasília temeria que critérios ecológicos sejam incluídos em futuras negociações comerciais na OMC (Organização Mundial do Comércio) que levantariam barreiras contra as nossas exportações. Aliás, barreiras já existem e contra elas temos brigado. Uma delas é a que é aplicada pelos Estados Unidos, sobretaxando o nosso etanol. Lula apresentou a Bush o pleito de acabar com essa sobretaxa e encontrou resistências, pois a matéria é da alçada do Congresso daquele país e não do presidente. Mas, já no Uruguai, Bush declarou que fará todos os esforços para que as sobretaxas caiam.

O governo brasileiro não aceita a crítica internacional teimosamente divulgada de que estamos destruindo a Amazônia com queimadas nas florestas e expansão das fronteiras agrícolas. Respondemos demonstrando que entre 2003 e 2006 houve uma redução de 52% no desmatamento da Amazônia. Mas não nos iludamos. A situação não está melhorando, mas apenas ficando menos pior. O desmatamento na imensa região do Norte do Brasil resultaria, segundo estudos confiáveis, que a floresta liberaria tanto dióxido de carbono e se transformaria numa savana. Seria um desastre para o Brasil e para todo o mundo. Assim, criticamos, e com razão, os países desenvolvidos que deixaram seus solos nus de florestas e esfregamos em suas caras o que temos feito para conservar as nossas. Mas estejamos conscientes de que o que fizemos é muito, mas não o bastante para salvar o nosso planeta. Nós e a comunidade internacional ainda temos muito a fazer, e com urgência.

Voltar ao topo