Brasil continuará dependente de gás importado, mostra estudo

O Brasil vai continuar precisando importar gás natural a médio e longo prazos, especialmente da Bolívia. A observação consta de estudo em que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) analisa a evolução do consumo nos últimos anos, os planos de produção da Petrobras e a expectativa para os próximos anos. Segundo a EPE, atualmente o Brasil consome cerca de 43,6 milhões de metros cúbicos de gás natural (fora o consumo próprio da Petrobras em suas plataformas), dos quais mais da metade provenientes da Bolívia – ao redor de 26 milhões de metros cúbicos ao dia. O Brasil importava também da Argentina, mas esse país interrompeu o suprimento devido à própria escassez interna.

Pelos dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) o Brasil já está gastando cerca de US$ 1 bilhão por ano com a compra de gás natural da Bolívia, com 100 mil barris de óleo equivalentes a cada dia. Se o novo governo boliviano elevar os preços, esse valor pode crescer de forma expressiva, adiando os planos do governo brasileiro de atingir a auto-suficiência na produção e consumo de petróleo e derivados para a segunda metade do ano.

Além da necessidade de pesados investimentos na fase de exploração e produção, o Brasil precisará construir uma extensa malha de gasodutos devido às dimensões continentais do País. O estudo da EPE constata que, de 680 bilhões de metros cúbicos de comércio de gás natural no mundo, cerca de 74% ocorreram via gasodutos. O documento da EPE assinala que o Brasil terá de negociar com os vizinhos, em especial a Bolívia e a Venezuela, que são os donos das maiores reservas no continente. "A convergência de marcos regulatórios entre países, a consolidação de um arranjo comercial e institucional, a dinamização da estrutura da indústria são desafios para os próximos anos", complementa a estatal responsável pelo planejamento de longo prazo na oferta de energia elétrica no Brasil. Como alternativas aos dois países, a EPE aventa a possibilidade de importar gás natural do Peru, Trinidad & Tobago e até da Argélia.

Outro desafio que terá de ser equacionado é a própria construção da malha de gasodutos no País, em razão da posição da Petrobras. Os especialistas do setor sabem que qualquer projeto na área depende de movimentos da estatal, que é titular da quase totalidade das reservas descobertas no País e do gasoduto que traz o gás da Bolívia. A empresa, porém, tem sido contestada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que defende o sistema de livre acesso aos gasodutos brasileiros. A Petrobras, porém, não aceita essa exigência, o que tem emperrado a aprovação da "Lei do Gás" no Congresso Nacional. A falta de um marco institucional, por sua vez, dificulta os investimentos no setor, até por falta de garantias bancárias para projetos que envolvem bilhões de dólares.

O problema é que toda esse aumento na produção terá de ser escoado através da malha de gasodutos. Na ausência dessa malha, a Petrobras tem queimado mais de sete milhões de metros cúbicos de gás todos os dias. Esse volume de gás, se pudesse ser aproveitado, seria suficiente para gerar cerca de 1.500 megawatts (MW) médios de energia elétrica no País, o que é equivalente a uma hidrelétrica de grande porte.

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