Brasil conclui 1ª etapa no Haiti como maior colaborador da ONU

O Brasil completou seis meses de atuação na força de paz da ONU para estabilização da crise no Haiti com o saldo de ser a maior colaboradora da missão autorizada pelo Conselho de Segurança. Os 1.200 soldados do país que estão no Haiti desde junho formam o maior contingente brasileiro enviado ao exterior desde a 2ª Guerra Mundial.

Durante esta primeira etapa da atuação, a missão da ONU precisava consolidar um efetivo que substituísse a Força Multilateral Interina (MIF), formada por Estados Unidos, Canadá, França e Chile, e que se mantinha no país desde a queda do presidente Jean Bertrand Aristide em fevereiro.

A tropa brasileira enfrentou, no início da missão, um quadro incompleto de militares previstos pela ONU, o que dificultava a atuação nas áreas mais críticas do país. Gangues, rebeldes e grupos armados favoráveis ao retorno de Aristide mantinham conflitos permanentes com civis e com a Polícia Nacional do Haiti.

O efetivo da polícia civil internacional também só começou a chegar a partir de setembro. Também não havia infra-estrutura para estabelecer uma base ao maior contingente ligado à ONU. Por três vezes, os brasileiros mudaram a sede de sua brigada até chegar ao atual prédio da universidade pública, no bairro de Tabarre. Pela insuficiência de soldados, chegaram a ocupar, ao mesmo tempo, seis diferentes lugares na capital Porto Príncipe para buscar a estabilização dos conflitos.

"A brigada brasileira percorreu todo o leque de operações prevista para uma força de paz: guarda de instalações, postos de controle, segurança de autoridades, patrulhamento, cerco, bsuca e apreensão e reconhecimento aéreo", explicou o comandante das tropas da ONU, o general Augusto Heleno em cerimônia que marcou o rodízio total das tropas brasileiras.

Não houve, durante esse período, nenhuma morte na tropa brasileira, nem a perda de controle em nenhuma operação liderada pelo país. Os soldados atualmente acompanham duas áreas de maior tensão na capital: o Palácio Nacional, sede do governo provisório, e a favela de Cité Soleil, que passa ao comando da tropa da Jordânia após a operação militar desta semana.

A ocupação de Cité Soleil, berço político do movimento Lavalas que apóia Aristide, foi a maior operação militar realizada com participação dos brasileiros. Cerca de 1.600 soldados entraram na terça-feira na favela e trocaram tiros com grupos armados.

Augusto Heleno elogiou o trabalho do comandante da brigada brasileira, o general Américo Salvador, que foi substituído por João Carlos Vilela, antigo chefe da 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel), com sede em Caçapava (SP).

"Consciente de que não liderava uma força de ocupação e sem contar com qualquer projeto de ajuda humanitária que pudesse contribuir para um trabalho efetivo de cooptação de apoio popular e, impedido de estabelecer um efetivo serviço de inteligência, por isso, dependendo de informações não-confiáveis e pouco oportunas, o general Américo Salvador manteve-se coerente e obstinado no sentido de não expor sua tropa. E, sobretudo, a sofrida população do Haiti a situações desnecessárias de fazer vítimas inocentes que pudesse levar a uma situação insustentável para o ambiente da força militar", discursou Heleno.

A Minustah possui representantes da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Sri Lanka, Jordânia e China. Nepal e Filipinas ainda devem enviar soldados até o final deste ano. Embora haja um esforço de diversos países para a estabilização do Haiti, a situação ainda é "instável" e "incerta" na visão dos generais brasileiros.

A organização das eleições deve ser o maior desafio para os próximos meses. Não há uma lista confiável de eleitores, metade da população não tem carteira de identidade e além da maioria ser também analfabeta. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) vão liberar recursos para estruturar o pleito geral, previsto para o final de 2005 e que deve eleger novos políticos para todos os cargos do Executivo e Legislativo.

Voltar ao topo