Brasil cai para a 65.ª posição em ranking de competitividade

O ambiente político no Brasil fez com que o País despencasse oito posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial publicado, nesta quarta-feira, na Suíça. Diante da crise, a percepção de empresários em relação à competitividade do País foi duramente afetada e a economia brasileira passou da 57.ª para a 65.ª posição entre 117 países.

Para Augusto Lopez-Claros, economista chefe do Fórum Econômico Mundial, se a corrupção ainda não afetou a economia brasileira, "a percepção dos empresários é o primeiro passo" para que isso ocorra.

O levantamento foi feito com empresas e concluído em maio, período em que as investigações sobre a corrupção estavam no início. Para analistas, isso significa que o Brasil poderá cair mais ainda no ranking no próximo ano.

"A pesquisa não é sobre a percepção dos eventos da semana anterior, mas é uma pergunta geral com relação à operação do sistema judicial, a honestidade dos políticos e dos membros do setor público. O que a comunidade empresarial disse é que há preocupações em relação ao entorno institucional. A pergunta não se refere ao chefe de Estado, mas é um fato que a comunidade empresarial notou uma deterioração no entorno institucional entre 2004 e 2005" , disse o economista.

As dúvidas quanto às instituições públicas e o favorecimento de funcionários do governo foram os principais motivos do desempenho sofrível do País. A confiança do empresariado também foi afetada com o enfraquecimento da coalizão partidária que governa o País. "As notícias sobre os escândalos azedou o clima", afirmou Lopez-Claros.

Segundo o ranking, a liderança mundial é da Finlândia. Mas Namíbia, Costa Rica, Colômbia, Uruguai, Tunísia ou Botsuana estão ocupando melhores posições que o Brasil. A queda registrada ainda deve ser considerada juntamente com a inclusão de novos países que não haviam sido avaliados no ranking de 2004.

Três deles – Catar, Kuwait e Casaquistão – foram incorporados neste ano e aparecem acima da posição brasileira. Ainda assim, a queda do Brasil no ranking foi uma das mais pronunciadas entre os 117 países.

"O nosso índice mostra uma piora nos ânimos da comunidade empresarial nos últimos seis meses, refletindo as preocupações sobre a falta de níveis adequados de transparência do setor público. Esses indicadores, que medem, por exemplo, a impacialidade de servidores públicos quando interagem com o setor privado, a eficiência de gastos públicos e aspectos de qualidade do ambiente jurídico, caíram muito no ano de 2005 ", disse.

Segundo o Fórum, os escândalos de corrupção atingiram a imagem do setor público e tiveram um efeito duplo: afetaram a confiança dos empresários e "desviaram as atenções dos legisladores de tarefas importantes na preparação da economia brasileira para os desafios da concorrência internacional".

Formado por uma série de índices, o ranking indica que a maior queda ocorreu na qualidade das instituições públicas do País. Nesse índice, o Brasil despencou 20 lugares e hoje ocupa a 70.ª posição, superado pelo Malawi, Azerbaijão e Peru. A ineficiência do governo ainda é tida como um dos principais obstáculos para se fazer negócios no País.

O Brasil também ocupa uma das últimas posições, a de 111 quanto ao uso dos recursos públicos, gastos de forma ineficiente segundo a pesquisa. O País ainda está na 62.ª posição em relação à corrupção e no 69.º lugar quanto ao favoritismo nas decisões do governo.

"Um dos problemas é a ineficiência nos gastos públicos. Há uma percepção de que os recursos poderiam ser mais bem utilizados. Nos países nórdicos, há grandes gastos governamentais, mas os empresários não estão preocupados, pois sabem que está sendo bem usado. Não é uma questão apenas se o País tem um déficit ou não em suas contas" , afirmou o economista.

Já nas questões econômicas, a situação não é tão melhor como aparenta. No índex de ambiente macroeconômico o Brasil aparece apenas na 79.ª posição, superado pela Nigéria. Quanto à estabilidade macroeconômica, o País está na 81.ª posição e na 83.ª no que se refere à inflação. O Brasil ainda ocupa a penúltima colocação no que se refere às taxas de juros e os empresários classificam o País como o pior no que se refere à eficiência do sistema de tributação.

Entre os pontos positivos, o levantamento mostrou que o câmbio no Brasil foi o oitavo mais competitivo do mundo. Outro ponto positivo foi a ausência de um perigo terrorista, embora o custo do crime no País seja um dos mais altos do mundo.

No índex de potencial de crescimento, o País aparece na 65.ª colocação, superado como Casaquistão e Gana. Já na classificação de melhor competitividade tecnológica, o País conseguiu chegar à 50.ª posição e ainda ficou em 49.º lugar em competitidade empresarial.

Receita

Para o Fórum Econômico Mundial, não basta o Brasil "simplesmente administrar um orçamento ou a macroeconomia". "Se um país quer ser competitivo, precisa ser vigilante e atacar várias frentes. O governo precisa agir rapidamente para enfrentar problemas em áreas importantes como a educação, infra-estrutura e o emprego" , disse Lopez-Claros. No que se refere à educação, por exemplo, o País ocupa a 97.ª posição em um ranking sobre a qualidade das escolas públicas.

Os melhores

A líder Finlândia e seguida pelos Estados Unidos e Suécia. Os cinco países noórdicos conseguiram se consolidar como os melhores do mundo e estão todos entre os dez primeiros colocados, desafiando todas as teorias de que impostos altos minam competitividade. Já Estados Unidos estão na segunda posição graças à sua capacidade de inovação. Uma classificação relativa apenas aos desequilíbrios econômicos colocaria o país na 47.ª posição.

Os chineses caíram em competitividade e hoje ocupam a 49.ª posição, em parte por causa da inflação. O país latino-americano mais bem colocado é o Chile, que, segundo o Fórum, já apresenta instituições públicas com níveis equivalentes às da Europa. O Chile, na 23.ª posição, está 31 lugares à frente do próximo país latino-americano no ranking, o Uruguai.

O Mercosul ainda tem um dos países menos competitivos do mundo, o Paraguai, na 113.ª posição. Já a Argentina volta a seus anteriores à crise política de 2001 e ocupa a 72.ª posição.

Voltar ao topo