Bolívia não deve prorrogar prazo de acordo com Petrobras

Na reta final da campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se alvo de uma bomba-relógio armada pelo seu ‘companheiro’ boliviano Evo Morales. O presidente da Bolívia já informou ao governo brasileiro que não deverá prorrogar o prazo, que termina no próximo sábado, véspera do segundo turno, para que a Petrobras chegue a um acordo com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB) sobre seu papel na exploração e comercialização do gás natural e no refino do petróleo naquele país.

Sem um acerto razoável, o governo Morales terá diante de si as alternativas de enfrentar uma séria crise política ou cumprir à risca os termos do decreto que nacionalizou o setor de gás e petróleo, há cinco meses, e expulsar a companhia brasileira do país. Nos quatro dias que restam até o prazo final, a Petrobras e o governo tentarão a todo custo evitar esse desfecho, que resultaria em prejuízo para os setores da economia brasileira que usam gás natural na geração de energia e num forte desgaste da imagem do presidente Lula.

Evo Morales, por sua vez, se vê atado a uma camisa de força. Se expulsar a Petrobrás do país, perderá sua principal fonte de investimentos na produção de gás natural. E dificilmente terá como cumprir o acordo de elevação do fornecimento para a Argentina, firmado na semana passada. Se não expulsar, tenderá a enfrentar a insatisfação das massas que o elegeram no final de 2005.

Na semana passada, o vice-presidente da Bolívia e responsável pelas negociações bilaterais, Álvaro Linera García, e o ministro da Presidência (Casa Civil), Juan Ramón Quintana, enviaram a São Paulo um técnico encarregado de jogar um balde de água fria na esperança do Brasil de postergar o prazo final para o acordo. Em encontro com o ex-assessor de Lula para Assuntos Internacionais e seu atual coordenador da campanha petista, Marco Aurélio Garcia, o técnico informou que o governo boliviano dividiu-se sobre a questão.

Diante de uma crise política interna em ebulição, não resta outra alternativa a Morales senão a de manter rigorosamente o prazo de 28 de outubro para a conclusão dos acordos entre a YPFB e as multinacionais do setor do gás e do petróleo. O técnico teria trazido apenas um conforto para a Garcia – a decisão do governo boliviano de manter flexibilidade em relação ao prazo para a alteração da fórmula de reajuste do preço do gás fornecido ao Brasil.

Reação

Na tarde desta segunda-feira (23), as negociações bilaterais foram retomadas em La Paz sob a pressão do calendário, de sinais contraditórios emitidos pelo governo boliviano e de advertências disparadas por Brasília. Por meio de sua assessoria de imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, antecipou a dificuldade de se alcançar um denominador comum nessas conversas até o próximo sábado, dada a complexidade dos tópicos – entre eles, a remuneração para a Petrobrás, na condição de serviços à YPFB.

Voltar ao topo